terça-feira, 10 de novembro de 2020

Porque saí do sistema religioso?

 



Não saí do sistema religioso por alguma mágoa ou rancor pessoal (esta seria uma motivação emocional, portanto manifestaria uma grande imaturidade, caso esta fosse a razão).


Graças dou a Deus que amo, com sinceridade de coração, as pessoas que conheci que estão lá, pois sei separar as coisas; sei também não ser melhor que ninguém, mas ser a Verdade infinitamente melhor do que a detestável mentira (por mais bem contada); e sei ainda que alguns salvos serão libertos pelo conhecimento da Verdade, conforme a vontade de Deus e a Seu tempo, assim como eu fui, por Sua misericórdia e amor.


Saí ( fui proibido de fazer as atividades religiosas lá dentro)  porque por pregar a verdade, esta que pode ser comprovada nas Escrituras por todos os que discernem pelo Seu Espírito; por isso em todas as minhas postagens constam as referências com livro, capítulo e versículo, apresentando o texto dentro do seu contexto, para que cada um confira, estude e comprove quando e se quiser.


Acho curioso que algumas pessoas julgam os outros pelo vazio que há em si mesmas, pois nenhuma das que criticam sabem vir contrariar com base nas Escrituras e nem demonstrar no que divirjo do genuíno evangelho; então como, com a Palavra, exponho as divergências das doutrinas humanas que estas seguem cegamente, preferem apontar a causa da saída como sentimental ou qualquer outra, do que entender ser espiritual e escriturística; afinal elas se baseiam em emoções e não em estudos, porque se estudassem comprovariam as heresias pregadas e praticadas nos lugares que frequentam. 

Mas, em vez de fazerem isso, tendo a mente cauterizada pela religiosidade, por pregarmos a Verdade CONTIDA NA PALAVRA, que colide com as mentiras contidas no sistema; alegam que estamos "perseguindo as igrejas".


Mas afinal o que vem a caracterizar a "perseguição às igrejas" à Luz das Escrituras?


Vamos examinar os textos da imagem abaixo juntos para identificarmos?

Abram as Escrituras para confirmarem. 


Agora, após examinarmos, vamos para as considerações...


1. O texto diz que Saulo assolava a IGREJA, correto?

Mas onde ele entrava para assolá-la?

R: Em suas casas.


2. Quem Saulo arrastava e aprisionava? Paredes? Tijolos?

R: Homens e mulheres.


3. O que caracterizava os discípulos de Cristo? Era pertencerem a placa X, Y, Z?

R: Pertencerem ao Caminho.


* E Quem disse ser O Caminho, A Verdade e a Vida? Os "pastores e padres", instituições?

R: O Próprio Jesus.


4. Eles pregavam nos púlpitos de um templo?

R: Não, andavam anunciado em toda parte.


* OBS.: Nem autorização para adentrarem nos átrios mais internos do templo eles tinham, reuniam-se em qualquer lugar, praia, casas, inclusive também nos PÁTIOS do templo, afinal haviam pessoas ali para ouvirem a Verdade e estava havendo o cruzamento de pactos (quando o templo ainda estava de pé, mas posteriormente veio abaixo, como fora predito por Jesus: Marcos 13:1,2).


5. O que os discípulos faziam e diziam para serem odiados pelos religiosos?

R: Anunciavam a Palavra (proclamar a Verdade sempre confronta a mentira, como vemos o exemplo de Estevão).

* Justamente o que eu e meus irmãos em graça estamos fazendo aqui, anunciando a Palavra e denunciando o engano.


6. Com quem Saulo pegava as cartas de autorização para prender a igreja de Cristo? Com os ditos "desigrejados" que não participavam das suas reuniões?

R: Não. Com um religioso, o sumo sacerdote.


* E apresentava essas cartas onde?

R: Nas sinagogas religiosas. 


7. Jesus disse que Saulo O perseguia.

A quem Jesus se referia?

Às estruturas de pedras criadas por homens; ou às vidas criadas por Deus sobre as quais Cristo derramou do Seu Espírito?

R: Às vidas. Conforme descrito no texto, homens e mulheres que pertenciam a Ele (O Caminho).


Portanto...


- Com que autoridade vocês, religiosos, chamam "casa de Deus" paredes as quais O Próprio Deus disse não habitar por 3 vezes na Palavra (Isaías 66:1-2, Atos 7:47-50, Atos 17:24,25), e nem sequer mandou construir?


Por que Jesus e os discípulos não construíram e nunca ordenaram fazê-lo e nem incentivaram a frequência em tais locais?


Paulo incentivou às reuniões de comunhão entre irmãos em todo e qualquer lugar, como uma verdadeira congregação estabelecida por Cristo, congregados uns aos outros e todos unidos n'Ele, convictos na sã doutrina, por isso não devemos deixar a congregação (não qualquer uma, mas a edificada pela Graça revelada em Cristo).


- Com que autoridade dizem que estamos perseguindo a "igreja de Cristo" e se autointitulam assim, se vocês fazem o oposto do que é ensinado do genuíno evangelho na Palavra?


- Com que autoridade querem chamar de "desigrejados" homens e mulheres que pertencem ao Caminho? Vidas as quais Deus fez de santuário, templo do Seu Espírito através da morte e ressurreição de Cristo?

Com que autoridade contrariam 1 Coríntios 6:19?


Só se for pela ilusória e falsa autoridade religiosa que vocês ACHAM que têm sobre os outros, como Saulo achava que tinha ao perseguir a verdadeira igreja de Cristo.


Mas a realidade é que vocês não têm autoridade nenhuma para enxertar ou amputar um membro do corpo de Cristo, somente da denominação de vocês, Quem tem a autoridade sobre o corpo é ELE, Nosso Cabeça!


"ELE É antes de todas as coisas, e NELE tudo subsiste.

ELE é A Cabeça do corpo, que é a igreja; é O Princípio e O Primogênito dentre os mortos, para que EM TUDO tenha a SUPREMACIA.

Pois foi do agrado de Deus que NELE habitasse toda a plenitude, e por meio DELE reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz PELO SEU SANGUE DERRAMADO NA CRUZ."

(Colossenses 1:17-20)


Se CRISTO reconciliou e religou, quem é o homem para separar?

E isso foi estabelecido ao entrar em um lugar físico, ou pelo sangue de Cristo?


"Pois toda casa é construída por alguém, mas DEUS é O Edificador de tudo.

Mas CRISTO é Fiel como Filho sobre a casa de Deus; e essa casa somos NÓS, se é que nos apegamos firmemente à Confiança e à Esperança da Qual nos gloriamos."

(Hebreus 3:4,6)


Quem edifica é DEUS ou o homem?

A casa d'Ele é formada de pessoas ou de paredes?


Pois é, só quem acha ruim anunciarmos a Verdade contida nas Escrituras são ou os religiosos, que estão se beneficiando com a ignorância dos incautos; ou os próprios que são manipulados por eles.


Se pronunciando a Verdade, combato a mentira e a carapuça serve pra X, Y ou Z, a culpa não é minha, só estou compartilhando.

Veja mais:

"A verdade do que aconteceu comigo em certa denominação"

https://youtu.be/lgX2MDrM9WE


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

É MUITAS PESSOAS QUE QUEREM REUNIREM AO NOME DO SENHOR?

 🤷🏻‍♂️❓"É MUITAS PESSOAS QUE QUEREM REUNIREM AO NOME DO SENHOR?"



Olhe bem,existe muitas pessoas em interessados em deixar a suas denominações para estarem congregados somente ao nome do Senhor. E quando digo que o número é grande é isso mesmo.  Então você irá pensar que as reuniões dos irmãos congregados somente ao nome do Senhor, fora do sistemas denominacionais, cresce de forma exponencial, certo? 🚫Errado. A grande maioria é formada por pessoas com diferentes motivações.


Quando eu falo em estar congregado somente ao nome do Senhor não estou falando de algum movimento moderno tipo, "igreja orgânica", "estação do caminho","igreja nos lares", "crentes reconfigurados", "comunidade de Jesus", "igreja simples" e coisas do tipo. Existem muitos descontentes com as denominações que se separam delas para formarem grupos que geralmente funcionam do mesmo modo que uma denominação, mas apenas sem um nome. A questão de estar congregado ao nome do Senhor não está tanto no como e sim no ONDE. É o Nome o lugar de reunião!


🚸Mas vamos aos diferentes tipos de pessoas que estão interessadas em reunir ao nome do Senhor Jesus: 


🚹🤔CURIOSOS: Não estão realmente em busca da verdade do um só corpo de Cristo ou de onde e como testemunhar disso na prática. Apenas querem conhecer algo mais para acrescentar mais um lugar à sua lista de "igrejas" visitadas; mais um check-in num aplicativo.


😱PESSOAS QUE GOSTAM DE DE CERTOS  PREGADORES ENTRE OS IRMÃOS: Nada de errado em gostar deste ou daquele pregador, mas algumas pessoas parecem mais interessadas em quem diz do que naquilo que é dito. Essas não estão realmente interessadas em congregar, mas apenas em escutar ao vivo um pregador que pensam liderar uma congregação. A questão é que os congregados ao nome do Senhor não têm um pastor em forma de um título honorífico ecclesiastico clerical, ou pregador fixo, mas praticam o que ensina a Palavra de Deus: 1 Coríntios 14:29 "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.".


 Então essas pessoas, quando visitam uma reunião em algum lugar e descobrem que não tem um pregador favorito que sempre fala, ficam desapontadas e nunca mais aparecem.


😎PESSOAS QUE ACREDITAM NA IMAGEM PASSADA NAS REDES SOCIAIS: Pessoas que veem fotos vídeos ou transmissões ao vivo no Facebook dos irmãos alegres, tendo comunhão, confraternizando, querem viver num ambiente assim. Uma vez um jovem que esteve em algumas reuniões comentou que tinha encontrado irmãos com os quais se sentia bem. Não durou muito. Alguém disse que "aqueles que chegam por causa dos irmãos acabam indo embora por causa dos irmãos". Ninguém coloca foto ou coisa do tipo no Facebook de irmãos de cara amarrada ou passando por problemas, do mesmo modo que ninguém coloca fotos da cara que a família faz quando chega as contas pra pagar onde todos estavam felizes nas fotos ou nos vídeos. Existem as na lutas e problemas  da vida. O Senhor Jesus falou "No mundo tereis aflições mas tende bom ânimo Eu Venci..." o Capítulo 16 Versículo 33 de João.


😵🤯😡PESSOAS BRIGADAS COM O CHAMADO PASTOR OU COM OS IRMÃOS COM OS QUAIS CONGREGAM:  Estas são as que acreditam que as pessoas em outro lugar possam ser melhores, mas na verdade estão apenas procurando por um novo terreno de batalha para também brigarem com seus novos adversários. Esses nunca irão se encaixar em lugar nenhum. Existem alguns que, depois de terem abandonado o lugar onde congregavam, voltaram para lá porque aparentemente as inimizades terminaram.


🥱PESSOAS QUE ENJOARAM DA DENOMINAÇÃO ONDE ESTAVAM PORQUE ACHAVAM MONÓTONA: Essas são as primeiras que dormem quando visitam uma reunião e descobrem que não tem a mesma dinâmica de uma palestra motivacional ou de um programa de auditório. Ou ficam até o final achando que vai entrar uma banda para tocar. Quando a banda não entra, não voltam. Um certo irmão contou certa vez: "uma vez um sentou-me ao meu lado e perguntou se não ia ter banda, e respondi que não tínhamos uma. Então ele disse que compreendia, que estávamos começando e no início dinheiro não dava para comprar os instrumentos, então ele iria orar ao Senhor para prover." Olhem só esta situação.


👥HEREGES EM BUSCA DE AUDIÊNCIA: Alguns são expulsos do lugar onde estavam congregados por causa de suas má doutrinas e chegam pensando que vão encontra uma plataforma para destilar seu veneno e conquistar discípulos. Alguém que visitou uma reunião em outra cidade depois enviou e-mail para vários irmãos comparando os ensinos de irmãos do século 19 aos ensinos de Ellen White (Adventismo) e Joseph Smith (Mórmon). Segundo ele era tudo a mesma coisa e queria propor aos irmãos que mudassem seu entendimento das Escrituras e acatassem o seu que ele teria prazer em compartilhar. Levou uma vaia tão grande que deve estar tentando lembrar o número da placa do "caminhão que o atingiu". 


👤OS CHAMADOS "PASTORES" DESEMPREGADOS: Existem também alguns casos assim, de alguns chamados pastores que perderam o posto, ou cantores "evangélicos" que perderam o público, e vieram em busca de recolocação. Alguns chamados "pastores" quando ficam sabendo que não há um pastor na fórmula de título honorífico à frente nas reuniões acham que é por não termos ainda encontrado alguém para contratar e chegam confiantes antes de caírem do cavalo. O mesmo acontecer com cantores e músicos. Quando descobrem que não vão encontrar um palco e o cachê que minguou na denominação onde costumavam se apresentar logo perdem o interesse.


Finalmente um número pequeno — bem pequeno — é o de pessoas que chegam porque buscam fazer a vontade do Senhor Jesus e desejam estar congregados a ELE, não a um outro nome ou denominação, a um pregador bem articulado, a uma banda bem afinada ou ao poder que a estrutura de uma grande instituição pode oferecer. São pessoas que não estavam buscando algo para si mesmas, como alguma vantagem pessoal, novas amizades, irmãos "mais espirituais", um lugar para "sentir-se bem" etc. São os que verdadeiramente fizeram ao Senhor a mesma pergunta que os discípulos fizeram:


"Onde queres que a preparemos? E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar." (Lc 22:9-10).


O "Homem" é figura do Espírito Santo. Lembre-se de que homens não levavam cântaros, a tarefa era das mulheres. O cântaro de água figura da Palavra, como em Efésios 5:25-27: "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível."


O lugar, espiritualmente falando, será "um grande cenáculo mobilado", ou seja, tudo está pronto e com lugar para todos, além de cenáculo representar um andar alto, separado do nível do chão deste mundo. Foi somente quando os discípulos chegaram ao lugar que o Senhor os dirigiu por meio o Homem com o cântaro que ele se colocou à mesa com eles, e é somente quando congregados no terreno ordenado pela Palavra de Deus que podemos contar com a presença do Senhor no meio.


"Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." (Mt 18:20).

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Reunido no único terreno

 ● Deus possui um terreno no qual Ele reúne os cristãos



Um segundo ponto a ser observado é que Deus possui um LUGAR -- um terreno Bíblico -- na terra “onde” Ele gostaria de ter os cristãos reunidos para *expressar* a verdade de que há um só corpo. Este Centro de reunião é o próprio Cristo. O mesmo versículo que citei (Mateus 18:20) diz: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [ao] meu nome, aí estou eu no meio deles”. Como já foi mencionado, este lugar de reunião no cristianismo verdadeiro não é um centro geográfico literal, mas um terreno espiritual envolvendo *princípios das Escrituras* que têm a ver com o modo como os cristãos devem se reunir para a adoração e o ministério (ou serviços) da Palavra. Aqueles que ocupam este terreno não estão reunidos aos princípios, mas a uma *Pessoa* -- o Senhor Jesus Cristo.


Este centro de reunião é um lugar da escolha do Senhor, onde Ele colocou o Seu nome e onde Ele reúne os crentes. Repare que o versículo diz “onde” e não “onde quer que”, como alguns cristãos gostariam de interpretar. Muitos acham que este versículo esteja simplesmente dizendo que quando e onde quer que um grupo de cristãos se reúna -- seja para tomar um café em uma lanchonete, para alguma atividade recreativa etc. -- eles contam com a presença do Senhor com eles coletivamente. Certamente é verdade que quando cristãos se encontram, independente do objetivo que tenham em mente, a presença do Senhor está com eles individualmente, pois Ele prometeu, “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28:20) e “não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Mas não é disto que o versículo em Mateus 18:20 está falando. Existe uma diferença nas Escrituras entre a presença do Senhor com o Seu povo individualmente, e a presença do Senhor com um grupo de crentes coletivamente, como uma assembleia (igreja) reunida para adoração, ministério e decisões administrativas. É a este aspecto coletivo que Mateus 18 está se referindo.


É importante considerar o contexto na interpretação da Bíblia. Se atentarmos para o capítulo em Mateus 18, veremos que nos versículos que culminam no versículo 20 o Senhor estava falando da assembléia (igreja) em sua capacidade administrativa de tomar decisões e agir. O capítulo tem a ver com a autoridade da assembleia local [irmãos(a) reunidos em uma certa localidade] para executar tais ações, pois o próprio Senhor está em seu meio. O Senhor está ali no meio sancionando a própria existência daqueles reunidos *pelo* Espírito ao Seu nome, e também suas ações administrativas. Tendo isto em mente, insisto em acrescentar que a presença do Senhor no meio daqueles que Ele reuniu não sanciona a condição dessas pessoas -- que pode ser péssima -- e sim o *terreno* sobre o qual elas estão reunidas.


 A Bíblia não fala de qualquer lugar que escolhermos, mas “onde” for o lugar escolhido por Ele. É por isso que ele é frequentemente chamado de “o lugar de Sua escolha”.


Lucas 22:7-10 também estabelece o mesmo ponto: existe um lugar na terra (um terreno espiritual) “onde” Deus gostaria que os crentes estivessem congregados. O Senhor Jesus estava para instituir a Ceia  -- o partir do pão (Lc 22:19-20; 1 Co 10:16-17, 11:23-26) -- e desejava que Seus discípulos fizessem isso no lugar escolhido por Ele. As coisas em Israel naquela época estavam fora de ordem e havia muita corrupção, que ia dos principais sacerdotes e anciãos até o cidadão comum. Como resultado disso, o Senhor não foi reconhecido como seu Messias. A verdade é que eles se preparavam para matá-Lo! (Lc 22:2).  O povo seguia celebrando a Páscoa, mas ao mesmo tempo rejeitava Aquele que era o cumprimento da Páscoa. Portanto, havia muitas casas em Jerusalém naquela noite em que a festa era celebrada, mas havia apenas um aposento onde o Senhor estava presente -- o lugar que Ele havia designado para Seus discípulos. A cristandade atual  igualmente encontra-se fora de ordem, e como resultado há muitos lugares onde os cristãos se reúnem, porém o Senhor não está ali no sentido coletivo para sancionar o terreno no qual eles congregam.


Hebreus 13:13 nos fala que o lugar escolhido pelo Senhor -- onde Ele está no meio -- é “fora do arraial”. O “arraial” é uma palavra que o Espírito de Deus usa para indicar o judaísmo e todos os princípios e práticas judaicas. Os cristãos costumam perder este ponto de vista e acabam adotando em seus lugares de adoração muitas coisas que estão conectadas à adoração judaica. Eles ignoram o claro ensino das Escrituras que indica que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário, ao qual agora temos acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). No entanto, acabaram usando o judaísmo como um padrão para suas organizações eclesiásticas. Erigiram grandes prédios apelitaram  de" templo" e catedrais etc“feitos por mãos de homens” (At 17:24-25), emprestando assim muitas coisas do Antigo Testamento em seu sentido literal como um padrão para sua adoração. Eles perderam completamente de vista o fato de que o verdadeiro terreno de reunião e adoração cristã é uma maneira totalmente nova de se aproximar de Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24; Hb 10:19-20). Tal terreno encontra-se totalmente fora dos princípios e práticas judaizantes. Qualquer pessoa que estivesse procurando pelo lugar da escolha do Senhor teria de procurar fora de todos esses lugares da cristandade atual -- da basílica de São Pedro, em Roma, à menor capela "evangélica "- pois todos esses lugares trazem, em maior ou menor escala, os paramentos do judaísmo mesclados na estrutura de seus "cultos" de adoração.


1 Coríntios 10:21 nos diz que existe algo chamado de “mesa do Senhor”. Não se trata da mesa literal que os irmãos têm em seus locais de reunião, sobre a qual colocam os emblemas da Ceia do Senhor - on partir do pão. Trata-se de um termo simbólico que denota o lugar no qual o Espírito Santo reúne os crentes ao nome do Senhor Jesus. É ali que a unidade do corpo é exibida e onde Cristo está no meio. Nas Escrituras uma “mesa” simboliza comunhão. No caso da mesa do Senhor ela simboliza o verdadeiro terreno de comunhão que Deus possui para todos os cristãos, onde a autoridade do Senhor é reconhecida e a ela todos se sujeitam. É por esta razão que é chamada de “mesa do Senhor”.


Existe uma figura desta verdade do divino centro de reunião em Deuteronômio 12, à qual já fiz referência. O Senhor possuía um lugar no qual Ele reunia o Seu povo, Israel. “Então haverá um lugar que escolherá o SENHOR vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome” (vers. 11). Os filhos de Israel deveriam levar suas ofertas e sacrifícios àquele lugar (Dt 12:5-6), celebrar suas festas anuais ali (Dt 16:2, 6, 11, 15-16), e ter seus problemas resolvidos pelos sacerdotes, levitas e juízes que estavam ali (Dt 17:8). No entanto é significativo o fato de que em todas as referências feitas em Deuteronômio sobre o lugar escolhido pelo Senhor, nunca é dito onde seria. À medida que a história de Israel se desdobra nas páginas da Palavra de Deus, aprendemos que este lugar seria Jerusalém (Sl 78:68; 1 Rs 11:13, 32, 36; 12:20; 14:21; 15:4 etc.). Em Deuteronômio não é feita menção sobre onde seria porque o Senhor queria que o Seu povo fosse exercitado em procurá-lo quando chegassem à terra. Do mesmo modo, no cristianismo nenhuma das passagens que vimos no Novo Testamento nos diz onde é o lugar -- este é um exercício para cada cristão. Isto está ilustrado no pedido que Pedro e João fazem ao Senhor: “Onde queres que a preparemos?” (Lc 22:9).

● Existe um divino ‘Reunidor’ que leva os crentes ao lugar escolhido por Deus


Tendo estabelecido a partir das Escrituras que o PLANO de Deus é reunir o povo de Deus em um mesmo terreno, e que Ele possui um LUGAR onde gostaria de ter os Seus juntos, Mateus 18:20 indica que Ele tem o PODER de fazê-lo. Existe um divino Reunidor -- o Espírito Santo -- que leva os crentes exercitados nisto ao lugar da Sua escolha.


A quem mais o Senhor confiaria a tarefa de reunir o Seu povo ao Seu nome além do Espírito de Deus? Apesar de o Espírito não ser diretamente mencionado nesta passagem fica claro que Ele é o divino Reunidor. Isto é visto das palavras “estiverem... reunidos”. O Senhor não disse “onde dois ou três se reunirem”, como erroneamente aparece na NVI e outras versões modernas. “Estiverem... reunidos” é voz passiva e aponta para o fato de existir um poder reunidor fora das próprias pessoas, o qual esteve envolvido na reunião delas sobre aquele terreno. Isto demonstra que o divino terreno de reunião não é uma associação voluntária de crentes. É verdade que devem existir vontade e exercício pessoal da parte daqueles que são reunidos pelo Espírito para que sejam encontrados ali no lugar onde Cristo está no meio, mas em uma última instância é Ele próprio quem reúne.


Entendo que a verdade da obra do Espírito representada nas palavras “estiverem... reunidos” tem sido grandemente contestada. Alguns tentam nos dizer que isto de ser obra do Espírito Santo é algo que só é ensinado pelos irmãos mais recentes, querendo com isto dizer que se trata de uma ideia nova. Outros procuram verificar no texto grego na tentativa de provar não ser assim. A verdade é que os escritos de C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A. Trench, H. Smith, além de muitos outros do século 20, já ensinavam que as palavras “estiverem... reunidos” realmente se referem à obra do Espírito Santo. Por exemplo, Hamilton Smith escreveu: “Para usar de uma ilustração simples, vejo uma cesta de frutas sobre a mesa. Como foi que elas chegaram ali? As frutas foram reunidas; não ficaram juntas por seu próprio esforço”. A palavra grega usada para “reunidos” é “sunago”, que significa literalmente “juntar” e poderia ser traduzida como “juntamente direcionados”, e tudo isso sugere um Reunidor. O dicionário grego de Strongs define que a palavra “sunago” (#4863) significa “direcionar juntos” ou “coletar”. O dicionário grego Vines define “sunago” como “reunir ou trazer juntamente”.


J. N. Darby escreveu: “Ele [Cristo] é o único centro de reunião. Os homens podem criar confederações entre si, colocando muitas coisas como alvo ou objeto de suas reuniões, mas a comunhão dos santos não pode ser conhecida a menos que cada linha venha a convergir em direção ao Centro vivo [Cristo]. O Espírito Santo não reúne os santos em torno de meras opiniões sobre o que é a igreja, por mais que estas sejam verdadeiras, ou sobre aquilo que a igreja foi ou possa ser na terra, mas sempre reúne em torno daquela Pessoa bendita, que é o mesmo ontem, hoje e eternamente. ‘Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles’ (Mt 18:20)”


Lucas 22:7-10 dá respaldo ao fato de que existe um divino Reunidor. Ali diz: “Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar” . O Espírito de Deus é visto aqui na figura de “um homem” carregando um cântaro de água. Muitas vezes nas Escrituras o Espírito de Deus é visto como um homem anônimo trabalhando nos bastidores. Isto porque não é o objetivo do Espírito de Deus chamar atenção para Si mesmo (João 16:13-14), e esta é a razão pela qual Ele não é diretamente mencionado em Mateus 18:20. Ele não assume um lugar de proeminência no cristianismo, mas trabalha nos bastidores guiando as almas exercitadas àquele terreno bíblico onde Cristo está no meio dos que estão assim congregados. Neste caso Ele guiou os discípulos ao lugar escolhido pelo Senhor, onde eles poderiam estar com Ele para a ceia. A “água” nas Escrituras costuma significar a Palavra de Deus (Ef 5:26). Assim aprendemos que o Espírito de Deus usa os princípios da Palavra de Deus para guiar os crentes ao lugar escolhido pelo Senhor.


Homens bem intencionados têm procurado reunir o povo de Deus e só causaram problemas. Por ignorarem a verdade da reunião apresentada nas Escrituras, eles desviaram os cristãos para grupos e seitas denominacionais e os encorajaram a frequentar “a igreja de sua escolha”. O resultado é que os crentes acabaram dispersos em mil direções. Isto certamente não é obra do Espírito Santo.● A conclusão lógica das Escrituras


Vamos agora reunir tudo e deixar que as Escrituras nos deem a resposta.


Primeiro, Deus gostaria que todos os cristãos estivessem juntos em um só testemunho prático, mesmo que estivessem em muitas localidades diferentes na face da terra.


Segundo, Deus tem um lugar e uma maneira -- uma posição ou terreno neotestamentario  -- onde Ele gostaria que os cristãos expressassem esta unidade congregados para adoração e ministério, e para ações administrativas.


Terceiro, existe um divino Reunidor (o Espírito de Deus) que exercita os crentes nestes princípios bíblicos de reunião e os encaminha a este lugar escolhido pelo Senhor.


A única conclusão lógica que podemos tirar destes princípios é que a presença do Senhor (no sentido coletivo da palavra, conforme temos falado -- Mateus 18:20) só poderia estar em um único lugar. Se isto for verdade, então o Senhor não poderia estar em todos os lugares onde os cristãos se reúnem -- mesmo que eles tivessem boas intenções. É algo bastante simples: se o Senhor garantisse a Sua presença nos muitos lugares onde os cristãos se reúnem, Ele estaria sendo condescendente com essas falsas posições. W. Potter, respeitado por seu ensino das Escrituras, afirmou: “Suponha que hoje o Senhor agraciasse com Sua presença essas diferentes denominações. O que Ele estaria fazendo? Ele estaria sancionando aquilo que é contrário a Si mesmo. Ele não poderia fazer tal coisa”. Potter acrescentou: “Não se trata de meramente insinuar que o Senhor não está no meio de quaisquer outros irmãos reunidos. Ele definitivamente não está”.


Ora, isto pode soar extremamente limitado, mas se você estiver honestamente buscando a verdade não irá querer discutir com a Palavra de Deus. Lembre-se de que estas coisas não são ideias minhas; elas são a única conclusão cabível à qual as Escrituras nos conduzem. Se você acha que a verdade de reunir é muito exclusivo, deixe-me perguntar: “Quantas maneiras há para uma pessoa ser salva?”. Uma. O que você diria disto? Diria que é muito limitado e exclusiviso? Não, porque é a verdade. A própria natureza do cristianismo Verdadeiro é exclusivo; só existe uma forma de se nascer de novo, só uma maneira de ser justificado, somente um modo de ser reconciliado etc. Tudo o que posso dizer é que precisamos nos acostumar com a ideia, pois é esta a posição que assumimos por sermos cristãos -- toda a revelação cristã da verdade é exclusivo por natureza. Nós não pedimos desculpas pela verdade -- ela é o que é.


Ora, se acharmos que os cristãos que se reúnem para a adoração e o ministério em suas muitas divisões denominacionais foram levados a fazerem isso pelo Espírito (como é o caso de Mateus 18:20), então o que estaríamos verdadeiramente dizendo é que o Espírito de Deus é o culpado pelas divisões que desonram a Cristo no testemunho cristão! Se o Espírito de Deus levou os vários grupos cristãos a se reunirem divididos uns dos outros, então Ele é o Autor de todas as divisões na chamada cristandade atual! Nenhum cristão de sã consciência iria culpar o Espírito de Deus pelo triste e dividido estado do testemunho da igreja. Hamilton Smith escreveu: “Será que o Espírito Santo está reunindo a todos os grupos divididos e independentes que procuram se apossar da promessa de Mateus 18:20? Acreditar nisto implica necessariamente colocar no Espírito Santo a culpa pelas deploráveis divisões e independência que desonram a Cristo. Será que esses múltiplos centros encontrados nas denominações religiosas são um resultado da obra do ‘Espírito de verdade’ que veio para glorificar a Cristo? Longe de nós tal pensamento!”.


Alguém poderia argumentar: “Mas você está ensinando que existe apenas um grupo certo de cristãos, e que todos os outros estão errados. Dá a impressão de que vocês são os únicos certos!”. Mas espere um minuto; eu não disse isto. O que estou dizendo é que as Escrituras ensinam que existe um terreno divino de reunião -- apenas uma posição neotestamentario neste mundo que o Senhor sanciona com a Sua presença. Eu não disse que aqueles com quem tenho comunhão estão neste terreno, embora eu acredite que o Espírito de Deus nos tenha guiado a este lugar. A verdade do congregar não diz respeito às pessoas, mas ao fato de o Senhor possuir um centro de reunião. Existe sempre o perigo de mudar o foco do Senhor no meio, para as pessoas que o Espírito de Deus reuniu ali, e acabar dizendo que aquelas pessoas possuem a mesa do Senhor. Isto é um erro; nosso foco deveria estar em Cristo no centro. Lembre-se, nossa reunião é “a Ele” (Hb 13:13).


O modo de Deus produzir unidade entre o Seu povo sempre foi no sentido de estabelecer um ponto ou centro de reunião ao qual o Seu povo pudesse se dirigir.


Nos tempos do Antigo Testamento o Senhor tinha um lugar onde Sua presença estaria, ao qual o Seu povo deveria se dirigir (Dt 12:5-7);


Nos tempos do Novo Testamento (cristãos) Ele estabeleceu um lugar onde Ele está no meio (Mt 18:20; 1 Co 5:4), onde o Espírito de Deus reúne os crentes;


Nos tempos do Milênio Ele também terá um lugar onde irá reunir os Seus santos daquele período (Sl 50:5; Ez 48:35).


Em cada dispensação (épocas) o centro é sempre o próprio Senhor. A título de ilustração, suponha que exista uma gigantesca roda de bicicleta com raios, onde o Senhor estivesse no eixo da roda e cada crente estivesse sentado em um raio no ponto onde ele encontra o aro. Naquela posição os crentes estariam a certa distância uns dos outros e do Senhor. Mas se cada pessoa deslizasse pelo raio em direção ao eixo, quanto mais próxima estivesse do eixo, mais próximas as pessoas estariam umas das outras. Assim é no modo de Deus proceder; Ele produz unidade entre o Seu povo estabelecendo um ponto de reunião ao qual Ele reúne o Seu povo.


É triste admitir, mas entre os santos reunidos pode ocorrer existirem alguns que tenham se manifestado com um espírito arrogante, dando a impressão de que “somos os únicos certos”. Isto só prova que é possível estar em uma posição correta (eclesiasticamente), mas em uma condição errada (espiritualmente). Como já foi mencionado, o orgulho da posição é uma das razões pelas quais o Senhor nos reduziu numericamente (Sf 3:10-11). Mas isto não altera o fato de que Deus tem um centro de reunião; apenas significa que alguns daqueles que estão neste centro podem estar em uma condição errada.


Deus gostaria que agíssemos conforme nossas convicções, quando guiados pelo Senhor. “Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente” (Rm 14:5). No que me diz respeito, creio que o Senhor está aqui no meio, mas não me gloriarei de estar reunido no centro de Deus, pois isto estaria totalmente fora de um espírito cristão. A graça e humildade genuínas não colocam as pessoas em evidência, como se fossem alguma coisa; aqueles que o Senhor tem reunido não são coisa alguma em si mesmos. Não se trata de presunção ou orgulho crer na verdade e agir baseado nela. O nome disto é fé.*O centro de reunião de Deus na terra nos dias de hoje* 


Portanto, será que existe um centro de reunião para os cristãos na terra? Sim, as Escrituras ensinam que existe. Onde ele está? A tarefa de vocês é buscá-lo. A resposta para a pergunta “Quem possui a mesa do Senhor” só pode ser “O Senhor”! A mesa é dele, e Ele está guiando a ela os crentes que têm este exercício. Deus quer que estejamos exercitados a respeito deste assunto e que procuremos saber a Sua vontade para sermos guiados por ela, assim como Pedro e João perguntaram ao Senhor “onde” era aquele lugar em sua época (Lucas 22:9). “A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinhá-las” (Pv 25:2).


RESUMINDO: Se o Senhor possui um centro de reunião na terra, então Ele só poderia estar em um lugar -- em uma posição neotestamentario. Se o Senhor estivesse no meio de todos os grupos cristãos, sancionando suas posições em sentido coletivo (Mt 18:20), então Ele seria o Autor das muitas tristes divisões denominacionais existentes no testemunho público. Isto é algo que Ele não faria, pois seria negar a verdade de que só existe um centro de reunião: a própria Pessoa de Cristo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O Reteté ou o cair no poder?


 Cair por causa do Poder

?

Reteté?

🤔QUE HISTÓRIA É ESSA?!


1) Surgimento desta prática — “cair no Espírito” — entre os grupos apelitado de "pentecostais"

         O ato de “cair no Espírito’, como modernamente conhecido, teve princípio nos Estados Unidos e ficou particularmente associado aos ministérios de Kathryn Kuhlman, Kenneth Hangin, Charles e Frances Hunter e Benny Hinn.

          Kuhlman (1907 – 1976) foi, talvez, o principal responsável pela entrada da prática do cair no Espírito no Movimento "Pentecostal" norte-americano, mormente porque essa prática acontecia bastante em suas reuniões.

        As características da “bênção” de estar “caído no Espírito” incluem a perda dos sentidos ou controle. Algumas vezes, aqueles que caem relatam não terem sentido nenhuma dor, mesmo se eles baterem suas cabeças (ou outras partes do corpo) no chão quando os “aparadores” – pessoas que ficam atrás para segurar os receptadores da unção – falharam em seu trabalho. Em muitas ocasiões, a experiência é acompanhada de línguas estranhas; em outras, pelo riso, choro, ou cânticos a Deus. ¹

 

2) Como a Bíblia define o ato de “cair”

          Biblicamente, o “cair” nunca teve uma visão positiva da parte de Deus. O pecado de Adão é chamado de “a Queda”: “E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.15). E toda “queda” ― nas Escrituras Sagradas ― denota rebeldia, desobediência, transgressão, desvio da verdade, e, simultaneamente : “Converta-te, ó Israel, ao SENHOR teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído” (Os 14.1).

        Lembre-se das palavras de Cristo, em Apocalipse 2.4 e 5, à igreja que estava na cidade de Éfeso? O Senhor não quer o justo caído , quanto mais a unção divina, será que derrubará? – “Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda” (Sl 116.8); “Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o SENHOR o sustém com a sua mão” (Sl 37.24). O incrédulo, sim, será derrubado: “O que endurece o seu coração cairá no mal” (Pv 28.14); “O perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal” (Pv 17.20).  

 

3) Os pressupostos da “queda de poder”

     Quando certos crentes recebem a “queda de poder” ― através de sopros no microfone, unções, abraçamentos de paletós, toalhas ou lenços jogados ― são amparados por outros que, ao ficarem atrás, querem livrá-los de as vestes levantarem e despi-los causando escândalos. Assim, ficam deitados no chão inconscientes e mortos. Ao se levantarem, não dizem nem se lembram de nada. Somente permaneceram deitados, alguns até cobertos; porém, sem edificação alguma. Erguem-se da mesma maneira.

          O culto a Deus é racional, a saber, baseado na razão, no raciocínio lógico, e não na emoção: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Deus jamais apaga o nosso entendimento quando recebemos o poder do Espírito Santo, no entanto, deixa-o livre para nós o controlar e não haver emoções carnais: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1Co 14.15). Logo, evitaremos meninices: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento” (1Co 14.20); pois “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1Co 14.32). O Diabo é quem tira o entendimento das pessoas e, através disto, tem campo livre na efetuação de seus intentos: “O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos...” (2Co 4.4); “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Ef 4.18. Veja Colossenses 1.21; 2Timóteo 3.8). O poder do Espírito Divino não exclui a razão, porque Jesus “cingiu os lombos do nosso entendimento” (1Pe 1.13), portanto, santificamos e guardamos a razão da esperança (cf. 1Pe 3.15) e “amamos  o Senhor de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento” (Mc 12.30).

 

4) A inconsistência desse modismo diante das Santas Escrituras

      Todos os homens de Deus, ao receberem o poder do Espírito do Senhor, nunca caíram para trás inconscientes. Eles sempre tombaram para frente, com o rosto em terra: sinal de humilhação, contrição, debilidade e indignidade diante da inefável graça de Deus, um ato de fragilidade e gratidão. Eis os exemplos dos que “caíram sobre os seus rostos”:

 


Daniel ao contemplar a visão do final dos tempos: “E ouvi uma voz ​de homem entre as margens do Ulai, a qual gritou, e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão. E veio perto de onde eu estava; e, vindo ele, me amedrontei, e caí sobre o meu rosto; mas ele me disse: ‘Entende, filho do homem, porque esta visão acontecerá no fim do tempo’. E, estando ele falando comigo, caí adormecido com o rosto em terra; ele, porém, me tocou, e me fez estar em pé, e disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira; pois isso pertence ao tempo determinado do fim” (Dn 8.16.19 – ênfase acrescentada).


 


Ezequiel ao ter a visão dos querubins e da glória de Jeová: “Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do SENHOR; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava” (Ez 1.28).


 


Pedro, Tiago e João quando não suportaram mirar a glória que ​desceu em Cristo – confirmação de Sua Deidade Absoluta e o cumprimento da Lei e dos Profetas: “E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo” (Mt 17.5-7 – ênfase acrescentada).


 


Josafá quando o Espírito de Deus se manifestou na congregação: “Então veio o Espírito do SENHOR, no meio da congregação... Então Josafá se prostrou com o rosto em terra, e todo o Judá e os moradores de Jerusalém se lançaram perante o SENHOR, adorando-o” (2Cr 20.14,18 ).


 


O ex-leproso que recebeu a salvação: “E caiu aos pés de Jesus, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano” (Lc 17.16 – ênfase acrescida).


 

         Portanto, nenhum deles caiu para trás sem raciocínio, adormecidos, mortificados ou coisas semelhantes; contrariando os propagadores desta falsa doutrina. Na verdade, são “falsificadores da Palavra de Deus” (2Co 2.17).

       Pedro e os onze apóstolos entre outros , quando veio a Promessa do Pai, sentiram um vento veemente e impetuoso, falaram em línguas idiomáticas mediante o dom de línguas (cf. At 2.1-4); entretanto, não foram tombados por Deus, mas “Pedro, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz” (At 2.14, grifo acrescido).

 

5) Satanás derruba no chão e tira a razão

          Quem derruba as pessoas inconscientes é Satanás: “E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal” (Lc 4.35). O jovem lunático, possuído de demônios, foi ao chão, que o deixaram surdo-mudo (cf. Mc 9.17-27).

          Se os crentes da atualidade, que se portam de tal forma, não forem detentores de forças maléficas, trata-se de mentira da parte deles ou emoções carnais, menos o poder da Pessoa do Espírito Santo! “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” (1Co 14.33).

        Se ao nosso homem interior, Deus diz: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (1Co 10,12); “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5.14); “Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé” (Sl 20.8); “Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então entrou em mim o Espírito, quando ele falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava” (Ez 2.1,2); “O SENHOR sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos” (Sl 145.14). Será que Ele quererá o nosso homem exterior no chão: sonolento, sem razão e, ao se erguer, não terá edificação alguma, visto que não sabe de nada?

 

👉🏼📖6) Textos usados pelos propagadores da “queda no poder”

         Naturalmente, toda vez que Deus tornou a verdade bem clara, a estratégia de Satanás foi lançar dúvidas sobre ela. Sempre que Deus falou com autoridade, o Diabo desejou solapá-la. “Será que Deus disse isso?”, ele fala com escárnio (cf. Gn 3.1). ²

       A “queda de poder”, ante o testemunho das Escrituras, está às claras que não pertence ao Todo-Poderoso, mas é um modismo inconsequente nos cultos ditos “pentecostais” (Ef 4.14), pois a sã doutrina neotestamentário não agasalha tal bizarria. É a emoção acima da razão. É o sentimento acima do poder do Alto. É aviltamento, e não verdadeiro avivamento predito na Palavra de Deus como é descrito em  (At 2.17,18). Por fim, um tipo de criancice espiritual (1Co 13.11).

         Como não há respaldo para sustentar a teoria do “cair no poder”, seus propagadores isolam passagens bíblicas interpretando-as como lhes convêm. Eles dão várias torceduras na Palavra de Deus, adaptando os textos conforme as lentes que possuem; todavia, “torcer as Escrituras” equivale a receber a condenação (2Pd 3.16). A Bíblia os responderá.

 

a) O sono pesado e o adormecimento de Adão

         Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu: e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar (Gn 2.21).

 

Argumento: Assim como Deus colocou um sono pesado em Adão, fazendo-o dormir, o Senhor coloca um sono sobre os que recebem a unção. O poder os faz adormecer.

 

Resposta bíblica: O Criador não pôs um sono pesado em Adão com intuito de ele adormecer por causa do recebimento de Seu poder sobrenatural. O sono em Adão teve outra 👉🏼finalidade bem específica — a de formar Eva.               Em face disso, o Senhor estabeleceu o casamento com a finalidade basilar de amor, afeto e companhia. O sono posto em Adão foi para arrancar-lhe a costela para a formação de sua companheira, isto é, literalmente, “uma ajudadora que corresponde a ele”, “uma ajudadora que esteja junto dele”. O arranco da costela é um “milagre de criação”, ou seja, o Criador opera-o por meio de uma fonte, uma causa, uma origem, um ponto de partida, da mesma maneira que Ele operou em outros casos, a exemplo 20 pães de cevada alimentaram um povo (2Rs 4.42-44), 5 e pães e 2 peixes alimentaram 5 mil pessoas (Lc 9.10-17), os corvos alimentavam Elias todas as manhãs com pão e carne (1Rs 17.5,6), etc. A costela representa a parte íntima constituitiva de Adão, pela qual o Altíssimo fez a mulher. Atualmente, mercê de Deus, para obrar milagres em nós: basta a graça! (2Co 12.9; 2Tm 2.1; Hb 11.1).

         Se essa doutrina fosse verdadeira e Adão tivesse recebido a “queda no poder”, não apenas isso, mas, em outros casos, ele sofreria terrivelmente de sonambulismo, estando cotidianamente “caído no poder”, visto que, na viração de todos os dias, o Senhor passeava pelo Jardim do Éden (cf. Gn 3.8). Que poder, hem! Imagine o próprio Criador passando? Daria para Adão ficar em pé um minuto sequer? É inconsistente a tal “queda no poder”, não?!... Fica provado, portanto, que a finalidade do sono profundo de Adão é o caso único na história e na Escritura — a formação da mulher, e mais nada!

         Nas curas e nas manifestações do dom do Espírito Santo descritos no Novo Testamento, tais como no Pentecostes (At 2.1-13), em Samaria (Atos 8.5-17), em Cesareia (At 11.1-11), em Antioquia (At 11.19-30), em Éfeso (At 19.1-6,11,12,18-20) — nada é dito sobre a “queda de poder”. Ninguém que recebeu poder do Espírito Santo caiu por um sopro, ou por uma lançada de túnica, ou por aventais e lenços jogados, ou por um giro poderoso, ou por uma rajada de uma suposta "línguas", e, além do mais, ficou inteiramente inconsciente, sem percepção das coisas, nem tendo proveito ao levantar-se. 

         Para operação de sinais e milagres naquela época, ninguém precisou  cair como morto no chão, mas bastou a fé no Nome (autoridade) do Senhor Jesus! (Mc 16.18 etc; e  At 9.34).

 

b) O tombo de Saulo no caminho de Damasco

          E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? [...] E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco (At 9.4,8).

 

Argumento: Saulo foi derrubado pelo poder de Deus no caminho de Damasco. Deste jeito, os crentes atuais caem sob o poder do Senhor.

 

Resposta bíblica: Saulo caiu por terra por duas razões: Primeira, por causa do resplendor da luz do Senhor Jesus no céu (cf. At 9.3; 26.13,14; 22.6,7), e segunda, por conta do juízo do Todo-Poderoso sobre ele, pois tinha pedido cartas a caso de ir às sinagogas ameaçar e matar os santos do Senhor (At 9.1,2). O Altíssimo, sabendo disso, malogrou as intenções de Saulo, derrubando-o por terra: nítido sinal de juízo (cf. Dt 9.3; Pv 16.18; 29.16; Is 30.13). Saulo não foi tombado pela unção de Cristo, porquanto, nessa ocasião, ainda não havia se convertido. Deus apenas concede o Espírito Santo aos obedientes (At 5.32). Ele encheu-se do Espírito após três dias desse acontecimento (At 9.9,17), e, ainda assim, não caiu para trás adormecido e inconsciente!

 

c) João caiu como morto aos pés de Cristo

          E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último (Ap 1.17).

 

Argumento: João, quando teve a visão, caiu aos pés de Cristo inconsciente e dormente, uma vez que, deste modo, fica um morto. E João caiu como morto. Isso prova a unção de poder que é recebida nos últimos dias.

 

Resposta bíblica: O Apóstolo João, na Ilha de Patmos, recebe a visão do Cristo Glorificado no céu (cf. Ap 1.12-16). O Eterno mostrou essa mesma visão ao profeta Daniel (Dn 7.9; 10.5-7). Nessa visão, João caiu “como” morto. A palavra “como” é importante para elucidação do verdadeiro sentido do versículo. “Como” significa “do mesmo modo”, “da mesma maneira”, “do mesmo jeito”, “da mesma forma”, “na qualidade de” ou “na condição de”. Ele não ficou morto — sem consciência nem ciência de nada, pois, caso houvesse permanecido assim, não teria consciência nem lembrança para descrever o que viu no Apocalipse!

         O apóstolo, ao contemplar o Filho de Deus totalmente glorificado, “caiu aos Seus pés”, ou seja, humilhou-se, apequenou-se e adotou uma atitude de inferioridade ante a presença de Cristo — o Redentor, e ficou “como morto”, isto é, temporariamente inoperante; inativo; inerte, sem movimento ou atividade própria; parado; imóvel; atônito — sem reação. Todavia, João estava completamente consciente, tanto assim que ele sentiu Jesus tocá-lo e ouviu o Senhor mandando-o escrever aquela visão. Será que nas supostas “quedas de poder” as pessoas ficam desse modo? Ou se levantam tirando os panos que as cobriram, arrumando a roupa, descabeladas, suadas, nem ao menos saberem a causa que caíram, enfim, sem edificação? E tudo que não é de fé é pecado (Rm 14.23); Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor (Ef 5.17).

 

d) Daniel caiu em profundo sono

        Contudo ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo o som das suas palavras, eu caí sobre o meu rosto num profundo sono, com o meu rosto em terra (Dn 10.9).

 

Argumento: Daniel, quando teve uma tremenda visão, caiu em profundo sono. A visão foi pelo poder do Espírito de Deus. Portanto, quando um cristão recebe a virtude do Espírito pode até mesmo “cair no poder”, em sono profundo.

 

Resposta bíblica: Da mesma maneira que o Apóstolo João, a visão de Daniel referia-se ao Cristo Glorificado (cf. Dn 7.9-13; Ap 1.12-16). Ambas as visões concernem à demonstração do mesmo evento: Cristo Glorificado. Daniel a teve mais de uma vez (Dn 10.5-7). Daniel — ao contemplar a glória e a entronização do Filho de Deus, visto que esta visão foi poderosíssima por sinal, cujos companheiros, que não a viram, correram atemorizados e esconderam-se (cf. Dn 7.7) — ficou totalmente fraco, transmudado, desmaiado, e não conseguiu reter força alguma (cf. Dn 7.8); por conseguinte, caiu com o rosto em terra — sinal de humilhação consciente perante o Todo-Poderoso (Dn 7.9); veja: ele não caiu para trás. Isso por si só já prova que ele estava totalmente consciente, contudo apenas não conseguia ficar em pé. Quanto a ele ter profundamente adormecido (Dn 7.9), não foi a manifestação da vontade de Deus que o fez ficar tombado no chão e sem forças. O profeta, fisicamente, estava debilitado diante da muitíssima glória de Cristo; entretanto, embora sem forças, uma mão o tocou e fez que ele ficasse em pé — fortificando as suas juntas e amparando-o pelas mãos (Dn 7.10), e disse: “Levanta-te sobre os teus pés; porque eis que te sou enviado” (Dn 7.11). Está vendo a vontade de Deus? — Fortificou suas juntas, firmemente segurou-o pelas mãos e disse: “levanta-te!” Isso desmantela a falsa doutrina do “cair no poder”. O tiro que seus propagadores querem-nos dar sai pela culatra!

         E mais: sendo Daniel, segundo o testemunho de Jesus, autor do livro que leva o seu nome (Mt 24.15), a prova é que ele estava mui consciente, pois conseguiu plenamente escrever tal visão.

O Senhor Jesus não quer ninguém caído, dizendo que está cheio de poder. A ordem de Deus é: “levanta-te!” (1Co 10.12; Ef 5.14; At 2.14). Quem cai para trás, inconscientes, são os possuídos: E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele, e não entres mais nele. E ele, clamando, e agitando-o com violência, saiu; e ficou o menino como morto, de tal maneira que muitos diziam que estava morto. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou (Mc 9.25-27).


● Bibliografia

 

¹ ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 616.

 

² GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. 6.ª Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2001, p. 16.n

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

TEXTO SEM CONTEXTO É PRETEXTO PARA HERESIA

O 🙋🏻‍♂️👉🏼CONTEXTO 


Texto fora do Contexto é Pretexto 

❝A tarefa do intérprete é determinar, por rigorosa investigação exegética, o sentido exato das palavras usadas pelo Espírito Santo e, na medida do possível, transmitir os pensamentos de Deus em Sua própria linguagem.❞ — (A.W. Pink | A Interpretação das Escrituras)

● Antes de preparar um sermão, devemos responder a sete perguntas:

1°) O que Deus espera de mim quando me envolvo nesta tarefa?
2°) Qual o significado gramatical das palavras?
3°) Em que tipo específico de literatura se encontram as palavras da Bíblia?
4°) Qual é o contexto imediato e o mais amplo?
5°) Qual o contexto histórico?
6°) Outras passagens da Bíblia trazem luz a essa passagem?
7°) De que maneira esta passagem aponta para Cristo? 

(Stuart Olyott em Pregação Pura e Simples -  Ed. Fiel)

***

● É importante estudar passagens e histórias bíblicas dentro de seu contexto. Estudar versículos fora de contexto leva a todos os tipos de erros e equívocos. 

• A compreensão do contexto começa com quatro princípios: 

a) o significado literal (o que ele diz),

b) o cenário histórico (os eventos da narrativa, a quem é dirigida e como foi compreendida na época),

c) a gramática (a sentença e parágrafo imediatos nos quais uma palavra ou frase se encontra)

d) e a síntese (a comparação com outras partes das Escrituras). 

O contexto é crucial para a exegese bíblica. Depois de estudarmos a natureza literal, histórica e gramatical de uma passagem, devemos então concentrar-nos na estrutura, no capítulo e então no parágrafo do livro. Tudo isto faz parte do "contexto". Para ilustrar, é como olhar um mapa mundial no Google Maps e gradualmente focalizar-se em uma casa.

Estudar frases e versículos fora do seu contexto quase sempre leva a mal-entendidos. Por exemplo, se tomarmos a frase "Deus é amor" (1 João 4:7-16) fora de seu contexto, poderíamos pensar que o nosso Deus ama tudo e a todos em todos os momentos com um jorrante tipo de amor romântico. Entretanto, em seu contexto literal e gramatical, o "amor" aqui se refere ao amor ágape, com a sua essência sendo sacrifício para o benefício de outra pessoa, não algo sentimental ou romântico. O contexto histórico também é crucial, uma vez que João estava se dirigindo a crentes na igreja do primeiro século e instruindo-os não sobre o amor de Deus em si, mas sobre como identificar os verdadeiros crentes dos mestres falsos. O amor verdadeiro – do tipo sacrificial e benéfico, é a marca do verdadeiro crente (v. 7); aqueles que não amam não pertencem a Deus (v. 8); Deus nos amou antes de termos amado a Ele (vv. 9 -10), e é por isso que devemos amar uns aos outros e, assim, provar que somos Seus (v. 11-12).

Além disso, considerar a frase "Deus é amor" no contexto de toda a Escritura (síntese) nos impedirá de chegarmos à falsa, mas comum, conclusão de que Deus é só amor ou de que Seu amor é maior que todos os Seus outros atributos. Por causa de muitas outras passagens, podemos saber que Deus é também santo e justo, fiel e confiável, gracioso e misericordioso, bondoso e compassivo, onipotente, onipresente, onisciente e muitas outras coisas. Sabemos também que Deus não só ama, mas também odeia (Salmo 11.5).

A Bíblia é a Palavra de Deus, literalmente "soprada por Deus" (2 Timóteo 3.16), e somos instruídos a estudar e compreendê-la através do uso de bons métodos de estudo bíblicos e sempre com a iluminação do Espírito Santo para nos guiar (1 Coríntios 2.14). O nosso estudo é grandemente aprimorado ao sermos fiéis à questão do contexto. Não é difícil apontar lugares que aparentemente contradizem outras partes das Escrituras, mas, se observarmos atentamente o seu contexto e usarmos a totalidade das Escrituras como referência, podemos compreender o significado de uma passagem e as aparentes contradições são explicadas. "O contexto é rei" significa que o contexto muitas vezes guia o significado de uma frase. Ignorar esse contexto é nos colocar em tremenda desvantagem.

***

● Como entender o contexto bíblico?

1°) Uma coisa que todos nós sabemos é que usar um texto bíblico (ou qualquer texto) isoladamente, sem considerar o seu contexto, sempre traz problemas e pode distorcer o sentido do que realmente foi a intenção da mensagem daquele um texto. Mas o que é o contexto? 

● contexto é o “conjunto de elementos linguísticos à volta de som, palavra, locução, construção, frase, parte de discurso, etc. (ex.: contexto fonético, contexto semântico). Modo pelo qual as ideias estão encadeadas no discurso”.

Isso significa que o contexto é muito importante para que um texto seja compreendido de fato com a ideia que o autor quis colocar ali no texto e não seja distorcida a sua mensagem. Daí a grande importância de sempre que estudarmos um texto da Bíblia, termos atenção ao contexto daquele texto.

● Tipos de contexto bíblico:

2°) Na Bíblia, podemos simplificar o estudo com pelo menos dois contextos: O contexto bíblico imediato e o contexto amplo. O contexto bíblico imediato é aquilo que vem antes ou depois do verso que lemos. Devemos ler alguns versículos antes e depois e, se possível, incluirmos na leitura também alguns capítulos antes ou depois do que estamos lendo. Esse contexto é obrigatório em nossa leitura, pois ele vai nos situar melhor no assunto que está sendo tratado ali. Já o contexto bíblico amplo é aquele que iremos recorrer para aprofundar o entendimento daquele texto e que pode estar não só naquele livro estudado, mas até em outros livros da Bíblia.

• Um exemplo: 

Quando estudamos o sacrifício de Jesus, vemos no contexto imediato o que aconteceu ali, como foi o sacrifício, o que Jesus fez, o que as pessoas fizeram, a traição, a perseguição, o sofrimento na cruz, etc. (contexto bíblico imediato). Mas se você buscar entender porque Jesus se sacrificou, aí terá que avançar para o contexto bíblico amplo, onde irá descobrir que Deus prometeu um Messias ao seu povo (lá no Antigo Testamento), onde Jesus é apresentado figuradamente como sendo o cordeiro sacrificado pelos pecados, semelhante aquele animal que no antigo testamento era sacrificado para que Deus perdoasse o pecado de seu povo, etc. Observou como funciona?

● "Não leia a Bíblia de forma aleatória. Ou seja, abrindo em qualquer lugar, de forma aleatória, e lendo textos isolados. Leia a Bíblia de forma sequencial para que você compreenda as histórias, compreenda melhor os contextos e, com o tempo, sua leitura ficará mais rica, pois você conseguirá ligar com mais facilidade cada contexto e cada entendimento que você já tem. Espero que as informações sobre como usar o contexto bíblico para seus estudos tenham sido relevantes!" 

(André Sanchez)

***

Conclusão 

O contexto é importante!

A Bíblia é um quebra-cabeça no qual é impossível interpretar somente uma peça sem um entendimento geral de outras. Cada palavra deve ser interpretada no contexto da frase, cada frase no contexto do parágrafo, cada parágrafo no contexto do livro e cada livro no contexto da Bíblia inteira. 

Pense nisso!

É essencial entendermos que o contexto é o rei da interpretação, mesmo que encontremos uma mesma palavra em diversas passagens, apenas ele lançará verdadeira luz sobre o que está sendo dito. O Espírito Santo é o único intérprete infalível da Sagrada Escritura.

Israel Reis

domingo, 4 de outubro de 2020

Nós também estamos reunidos ao nome do Senhor

 Encontro muitas pessoas de algumas denominações dizendo: "também nós se reunimos em nome de Jesus como vocês?"



■ Uma Imitação da Verdade de Ser Reunido

 Por isso, uma coisa é dizer que estamos reunidos ao nome do Senhor, e outra completamente diferente de realmente ser ou está reunidos em Seu nome. 


Embora muitas coisas externamente pareçam bíblicas nas denominações religiosas, não acreditamos que eles estejam reunidos no verdadeiro terreno da Igreja. Exitem muitos princípios e  ordens humanas que foram adotados para manter essas denominações funcionando – não na mesma extensão das igrejas neotestamentarias  – mas, eles estão lá. Cremos que isso foi feito porque o Senhor não está no meio delas, de acordo com Mateus 18:20. É triste dizer que elas substituíram a ordem divina pela ordem humana e isso está apoiado no “braço” da carne (Jr 17:5). Percebemos que essa conclusão pode ser ofensiva para aqueles que estão nas denominações protestantes, mas sentimos que é necessário falar a Palavra fielmente (Jr 23:28).


Como mencionado anteriormente, as denominações "evangélicas" professam estar reunidos ao nome do Senhor também, e até colocam um sinal em seu prédio afirmando que estão (muitas delas ofazem), mas isso por si só não significa que é assim. Hayhoe costumava dizer que é algo como uma pessoa procurando um médico. Ele pode descer a rua e encontrar uma placa em um prédio de escritórios informando que lá é o consultório do médico fulano de tal. Entrando e notando que não há diplomas ou certificados publicados para provar a autenticidade do médico, ele pergunta à enfermeira da recepção e ela responde: “Ah, ele não tem um certificado de uma escola de medicina, mas é um bom médico e você vai gostar dele.” Da mesma forma, as denominações  podem declarar que estão reunidos ao (em) nome do Senhor – e podem ter boas intenções ao fazê-la – mas elas realmente não têm autoridade da Escritura para ocupar esse terreno porque não se reúnem de acordo com toda a verdade da Escritura. E como im certo irmão resumiu apropriadamente dizendo: “A coisa toda é apenas uma imitação do verdadeiro terreno de reunião”. Nossos queridos cidadãos denominacionais nesta posição falsa podem não perceber isso, por essa razão os encorajamos a procurar essas coisas e, na presença do Eterno, com uma Bíblia aberta e um coração aberto, ver se é assim (At 17:11).


Ao encerrar estas estas palavras dos princípios e práticas dos grupos denominacionais, confiamos que não estamos sendo severos ou julgadores em nossas conclusões. Às vezes, provavelmente soou assim para aqueles afetuosamente estão  ligados àquela posição numa denominação "X", no entanto, procuramos declarar a verdade e não podemos nos desculpar por isso. Confiamos que isso foi falado com fidelidade e amor. Agora deixamos ao Senhor o exercitar as almas.


Acreditamos que aqueles que são verdadeiramente exercitados considerarão essas coisas em seu coração e agirão de acordo com elas, conforme o Senhor os guie. Agora, recomendamos nossos leitores a “Deus e à Palavra de Sua graça” (At 20:32).



sábado, 3 de outubro de 2020

O Vinho

  

VINHO - O crente pode beber? (CC)

(Deverá “clicar” nas referência bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

 

 

NOTA: Prezado visitante da “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”.

 

Se tenciona ler o artigo sobre o vinho, peço-lhe que o leia até ao fim, antes de tirar as suas conclusões. Este artigo poderá ser copiado livremente, mas com duas condições: Em primeiro lugar, que seja feita uma divulgação da totalidade do artigo e não somente a parte que mais se adapta às suas ideias, e em segundo lugar, que seja mencionada a sua origem, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”.

 

Que o Senhor o oriente na leitura deste estudo.

 

 

Vinho – 1 (Camilo Coelho)

 

O vinho, na Bíblia

Introdução

Recebi há dias esta mensagem dum jovem irmão em Cristo, de Campinas, no Estado de São Paulo – Brasil.

 

A Paz do Senhor,

Irmão Camilo, saudades, como vai! Já faz tempo que não nos falamos, aliás estive fora da internet uns dias, resolvendo problemas, mas graças a Deus sempre com Jesus no barco.

Gostaria que o irmão, mais uma vez me respondesse a questões voltadas à Bíblia, e desta vez gostaria que o irmão me esclarecesse melhor, o que o apóstolo Paulo estava querendo dizer a Timóteo quando implicou sobre que os diáconos deveriam não ser dados a muito “vinho”, Várias passagens na Bíblia falam do vinho, do suco da uva, segundo o dicionário, mas porque não ser dado a muito suco de uva, ou qual a explicação à luz da Bíblia, pois, também o apostolo, fala para não nos enchermos do “vinho”, em que há contenda, mas do Espírito de Deus!

Aguardo resposta,

A PAZ DO SENHOR - Everaldo - Campinas/Brasil

 

 

Qual terá sido o motivo que levou este jovem a fazer-me esta pergunta? Não é caso isolado, pois alguns outros brasileiros, na maioria jovens, encontram a minha página na internet e resolvem contactar-me, fazendo perguntas a que tento responder, embora não seja pastor e não fale em nome de nenhuma igreja. É interessante, que estando em Portugal, são em muito maior número os brasileiros que me contactam do que os portugueses. Talvez em parte, seja pelo nome da minha página “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, uma página que somente se preocupa com a fidelidade aos textos bíblicos, sem se preocupar com as tradições, sejam elas católicas, evangélicas ou ortodoxas.

 

Mas, será que faz sentido, um jovem diácono brasileiro, dirigir esta pergunta para o outro lado do Atlântico?

 

Penso que sim, que esta troca de pensamentos e opiniões entre os dois lados do Atlântico, do Brasil para Portugal, e de Portugal para o Brasil, é salutar e é uma forma de testar as nossas convicções teológicas, uma forma de saber se uma determinada afirmação ou opinião tem fundamento bíblico ou se será somente fruto do nosso contexto cultural ou histórico. É que o genuíno Evangelho que Cristo nos apresentou, é universal, é para todas as épocas e todas as culturas. Podemos testar a veracidade das nossas convicções, até mesmo dentro do nosso espaço lusófono, pois se determinada afirmação não for válida em Curitiba no sul do Brasil, em São Paulo, no interior da Amazónia, em Lisboa, em Nampula no norte de Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, nas ilhas dos Açores, no meio do Atlântico ou na Marinha Grande no centro de Portugal, onde me encontro, então é porque não se trata duma genuína afirmação bíblica eterna e universal, mas somente um aspecto da nossa cultura.

 

Os aspectos culturais podem e devem ser questionados, mas com precaução. Pelo facto de determinada afirmação não ser bíblica, não significa que não seja útil a sua preservação, enquanto se mantiver o contexto cultural que lhe deu origem. Mas deverá ser apresentada como tal, como simples tradição e não como mensagem do Senhor, pois a Bíblia não pode ser alterada.

 

Diferenças culturais

 

Quando um evangélico português vai ao Brasil, ou quando um brasileiro vem a Portugal, um dos pormenores mais chocantes é o problema das bebidas alcoólicas e do vinho em particular. No Brasil o crente não pode tocar num copo de vinho, enquanto em Portugal o vinho é visto com naturalidade e está presente nas festas das igrejas evangélicas, embora certamente que se condena o abuso do vinho assim como se condena o abuso da comida.

 

Esta diferença de atitudes tem uma origem histórica, pois o Brasil foi evangelizado principalmente por missionários americanos, cuja tradição os proibia de beber vinho. Por um lado, temos de ser compreensivos para com a sua atitude, pois vinham duma cultura sem tradição vinícola, enviados por igrejas que não sabiam diferenciar o verdadeiro vinho, do whisky, cachaça ou outras bebidas destiladas com elevado teor alcoólico e ao chegar ao Brasil, onde a igreja mãe nos USA esperava que fundassem uma igreja que fosse uma cópia fiel da igreja mãe, encontraram um povo em que o alcoolismo era um dos principais problemas. A sua reacção foi certamente a continuidade da tradição americana, que tinham aprendido desde crianças, que o crente não pode beber. O Evangelho divulgou-se em todo o Brasil principalmente entre a classe mais humilde, que nunca questionou tais ensinos em face das Escrituras.

 

No entanto, presentemente a situação está a mudar. Os evangélicos cresceram em número em maturidade e já questionam as tradições que receberam. É disso um bom exemplo a mensagem que recebi.

 

Nos países africanos que falam a nossa língua, em especial Moçambique, Angola etc. a situação é semelhante ao que se passa no Brasil, por vezes reforçada pela tradição islâmica (norte de Moçambique) e suponho que também na Guiné, visto que o islão proíbe as bebidas alcoólicas.

 

O que era o vinho

 

Segundo informação que consegui obter na literatura consultada, com especial referência para o Dicionário Bíblico de Davis, a “International Standard Bible Encyclopaedia” e o Dicionário de Teologia Bíblica da Bauer, (Edições Loyola) quase toda a bebida alcoólica que se fabricava em Israel era vinho genuíno, vinho de uvas, que eram colhidas maduras e transportadas em cestos para o lagar escavado em rocha, com cerca de 2 a 3 metros quadrados de superfície e 40 a 50cm de profundidade. Pelas descrições que obtive, penso que não seriam muito diferentes dos lagares que temos nesta zona do centro de Portugal, onde me encontro, embora a maior parte desses antigos lagares, já não funcione devido a outros métodos mais modernos e mais rentáveis que os tornaram obsoletos. Parece que a única diferença é que estes antigos lagares que ainda temos em Portugal são de betão (concreto). É possível que também haja lagares escavados em rocha, mas nunca os vi.

 

As uvas eram pisadas e o suco da uva, para empregar a expressão mais utilizada no Brasil, ou o sumo da uva, expressão mais vulgar em Portugal e nos países africanos que falam a nossa língua, embora o termo mais correcto seja o mosto, escorria para uma vasilha ou outro compartimento de menores dimensões. Penso que este sistema se manteve praticamente inalterável há milénios, pois já era assim no antigo Egipto, antes de Israel existir como nação. Só nos nossos dias é que está a ser alterado, mas quanto a essa parte, o melhor é pedir a colaboração a quem sabe, que não são os teólogos, mas os especialistas no assunto, como é o caso da jovem engenheira de alimentação Ângela Faria, membro da Igreja Batista da Maceira – Portugal, a quem vou pedir para nos falar do vinho dos nossos dias.

 

Tal como nos nossos dias, pois as leis da química e da biologia não mudaram, o mosto sofria a fermentação alcoólica, dando origem ao vinho e este, após a fermentação acética dava origem ao vinagre. A palavra grega “oxos”, ou a hebraica “homes”, tanto podia designar vinho como vinagre.

 

Devo afirmar em primeiro lugar, que não há na Bíblia, passagens didácticas sobre o vinho, que definam com o rigor científico dos nossos dias o que é propriamente o vinho, e as suas características químicas e bacteriológicas, mas vamos fazer referência às várias palavras, quer no hebraico do Antigo Testamento, quer no grego do Novo Testamento.

 

A expressão mais utilizada, que é traduzida por vinho, é a palavra hebraica “yayin” equivalente à palavra grega “oinos” e à palavra latina “vinus” que deu vinho na nossa língua. Essa palavra aparece em Génesis 9:21 e Génesis 19:32, onde pelos seus efeitos, não há dúvida de que era mesmo vinho que foi consumido descontroladamente.

 

A palavra “tirosh” que aparece em Números 18:12Neemias 10:37Joel 2:24 a maior parte das nossas melhores versões da Bíblia traduziu por mosto ou vinho novo. Na passagem de Joel, não há dúvida de que era mosto, pois se ainda estava a transbordar no lagar, certamente que ainda não tinha fermentado. No entanto, nas outras passagens é por vezes traduzida por vinho, ou vinho novo.

 

Outra palavra que aparece por exemplo em Actos 2:13 é a palavra “gleukos”, que a maior parte das nossas versões traduz por mosto.

 

Penso que ao considerar estas palavras, não podemos ignorar o contexto histórico destes textos. Presentemente, todas as garrafas de vinho em Portugal, têm a indicação do teor alcoólico que é determinado pelo laboratório de análises da adega cooperativa onde o vinho foi produzido, mas nessa época ainda não havia equipamento para determinar a composição do vinho. Não é de estranhar que apareçam casos intermédios, em que não está bem definido do que se trata. Assim, como classificar o “vinho”, uma semana depois das uvas serem prensadas? Ainda falta muito para ser vinho “oinos”, mas a fermentação alcoólica já se iniciou e já não é o genuíno mosto “gleukos”. Neste caso, talvez a designação mais correcta fosse o “tirosh”, que por vezes é traduzido por vinho novo. Um caso em que há certa indefinição é a passagem que já mencionei em Actos 2:13, pois “gleukos” significa mosto. Mas será que eles poderiam estar embriagados com mosto, o tal suco da uva? Penso que mais correcta neste ponto será a Bíblia de Jerusalém que traduz por “vinho doce” dando a ideia dum início de fermentação alcoólica. Mas não há dúvida de que o vinho velho, já fermentado era o mais apreciado, segundo vemos no próprio evangelho de Lucas 5:39 onde aparece a expressão grega mais utilizada “oinos”.

 

 

Actos 2:13

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Lucas 5:39

Descrição: vinho_g02

 

 

Uma vez que a vindima está relacionada com a época do ano e se efectua só uma vez por ano, o natural era terem o mosto só nessa época, nos dias em que as uvas eram pisadas, uma vez que ainda não havia a cultura em estufas, para se obter uvas fora da época, nem meios de congelação para conservação do mosto, técnicas que são bem dos nossos dias.

 

Segundo alguns afirmam, era possível evitar a fermentação do mosto, se metido em ânforas bem tapadas e mergulhadas em água fria, abaixo dos 10 graus centígrados. Os romanos empregavam este método, mas é pouco provável que na maior parte do território de Israel, onde a vinha era cultivada, se encontrasse água em tal quantidade e a essa temperatura durante todo o ano. É verdade que há neves eternas no monte Hermom, e mesmo em Jerusalém, devido à altitude, a temperatura média em Agosto (o mês mais quente) é de 26º centígrados, mas trata-se dum micro-clima, só no cimo do monte, pois na maior parte do vale do Jordão registam-se grandes amplitudes térmicas com altas temperaturas no Verão. Segundo a “International Standard Bible Encyclopaedia” (Volume V - página 3086) “É muito difícil a conservação do mosto (portanto sem fermentação), sem o recurso a modernos meios de desinfecção, pelo que a sua preservação num clima quente e com deficiente higiene, não era possível.” Outro método de se evitar a fermentação alcoólica, era ferver o mosto e transformá-lo numa espécie de doce de uva. Mas este método, não conservava o mosto, como dizem, mas criava um subproduto do mosto, uma espécie de “mel” de uva. Não é possível, que num clima quente e seco, tais métodos de conservação do mosto, tivessem grande aplicação como alguns defendem. Certamente que quase todo o mosto era para ser transformado em vinho e somente uma pequena parte seria consumida, mas só nos dias em que as uvas eram pisadas.

 

Havia também o “mesek” ou “mimsak” que aparece em Salmos 75:8Provérbios 23:30Isaías 55:1 que era o vinho misturado com especiarias.

 

Havia também bebidas alcoólicas fabricadas com outros frutos, que não eram propriamente o verdadeiro vinho de uva, mas produtos da fermentação da cevada (antepassado da cerveja?), da tâmara, da maçã e de outros frutos.

 

Utilidade do vinho

 

É evidente que a maior utilidade do vinho, o vulgar vinho do ano, o “yayin” do Antigo Testamento, ou o “oinos” do Novo Testamento, tal como se passa nos países de tradição vinícola, como Portugal, era para ser bebido às refeições. Era a bebida do pobre, embora houvesse outros tipos de vinho a custos mais elevados, só acessíveis a uma minoria.

 

Há no entanto, várias passagens em que o vinho era utilizado como medicamento. É o caso de Lucas 10:34, na parábola do bom samaritano, em que este deitou azeite e vinho nas feridas. Temos também em 1ª Timóteo 5:23 o caso de Paulo a aconselhar Timóteo a beber um pouco de vinho por causa das suas enfermidades.

 

Lucas 10:34

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1ª Timóteo 5:23

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No Antigo Testamento, encontram-se passagens que determinavam as ofertas de vinho dedicadas ao Senhor, em Êxodo 29:40Levítico 23:13Deuteronómio 14:26 onde aparece a mesma palavra “yayin” que serviu para embebedar a Noé em Génesis 9:20, palavra que aparece, quer isolada, quer associada a outras palavras.

 

Génesis 9:20

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Êxodo 29:40

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Levítico 23:13

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Deuteronómio 14:26

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Também Melquisedec, rei do Salém e sacerdote do Deus altíssimo, tantas vezes citado como um exemplo digno de se seguir, quando se fala no dízimo, em Génesis 14:18 trouxe pão e vinho “yayin”.

 

Génesis 14:18

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Em várias passagens encontram-se referências ao pão, vinho e azeite, as bases da alimentação no Antigo Testamento.

 

Atitude de Jesus perante o vinho

 

Como evangélicos, a Bíblia é para todos nós, a tal espada de dois gumes, que tanto dá para cortar para um lado como para o outro.... já todos nós sabemos disso. Mas dentro da própria Bíblia, temos como supremo exemplo a figura do nosso Mestre, as suas ideias e o seu comportamento e é isso que nos interessa.

 

Vejamos em primeiro lugar o que é possível conhecer sobre o vinho, no contexto cultural em que Jesus viveu, em que havia uma secular tradição vinícola.

 

Muito dessa tradição, é bem parecido com o que se passa em quase todos os países mediterrâneos, excepto o Norte de África, onde devido ao islamismo se perdeu a tradição vinícola, mas ainda hoje, embora os hábitos estejam a mudar, é possível ver em algumas antigas casas de campo em Portugal, Espanha, sul da França, Itália e Grécia, o fabrico de vinho no lagar como se fazia no tempo de Jesus.

 

No Israel dessa época, havia os que exageravam no consumo do vinho e outras bebidas de teor alcoólico muito mais elevado, e havia também os que se abstinham do vinho, como era o caso dos recabitas, uma comunidade sectária que levava vida nómada e não praticava a cultura da vinha nem qualquer tipo de agricultura, como vemos em Jeremias 35:12/15. Havia também alguns casos em que se abstinham do vinho e certas comidas, geralmente durante um certo período, para se dedicarem ao Senhor, e temos também os que faziam o voto de nazireu, como era provavelmente o caso de João Batista, mas estes nem bebiam vinho nem comiam uvas frescas nem secas, portanto também não poderiam beber do mosto da uva, como vemos em Números 6:3.          

 

Lendo os evangelhos atentamente e sem preconceitos, temos de concluir que Jesus bebia vinho normalmente, como bebiam todos no seu contexto cultural.

 

É verdade que em Mateus 11:19, Jesus é acusado de ser comilão e beberrão.

 

Mateus 11:19

Descrição: vinho_g10

 

Vemos que a palavra utilizada no grego é “oinos” e beberrão poderia ter sido traduzido por bebedor de “oinos”. Claro que não podemos aceitar esta acusação. O que deve ter acontecido, é os seguidores de João Batista imaginarem um Messias do tipo de João Batista, e quando viram que Jesus, em vez de se isolar no deserto ou no interior do Templo, procurou aproximar-se dos pobres, sem fazer distinção alguma, ficaram escandalizados. E ainda mais escandalizados ficaram, ao ver Jesus a beber com os pecadores e logo o acusaram de beberrão. Isto ainda acontece nos nossos dias com esses “santarrões” que se afastam do homem pecador e também querem confinar Jesus ao seu reduzido espaço litúrgico.

 

A Bíblia apresenta várias passagens em que se alerta para o abuso do vinho. Encontramos esses avisos em 1ª Coríntios 5:11 e 1ª Coríntios 6:10Gálatas 5:21Efésios 5:18 e 1ª Pedro 4:3.

 

Se ainda tivéssemos dúvidas sobre as acusações em Mateus 11:19, estas passagens seriam suficientes para concluirmos:

 

1) Não há nenhuma passagem neotestamentária em que se proíba o vinho.

 

2) Encontramos passagens em que se alerta para o abuso do vinho, o que de certa maneira vem demonstrar que o vinho “oinos” era utilizado pelos primitivos cristãos.

 

Passagens mencionadas pelo jovem irmão Everaldo

 

Meu caro Everaldo.

 

Embora não tenhas mencionado as passagens, certamente por não ser necessário, de tal maneira elas são conhecidas de todos nós, não tenho dúvidas de que te referes a 1ª Timóteo 3:8 e Efésios 5:18.

 

Tens toda a razão nas dúvidas que levantas, e a tua atitude de questionar o que te ensinaram, está perfeitamente de acordo com a mentalidade dos bereanos que Paulo elogiou, apresentando-os como um exemplo de estudantes da Bíblia. Isso foi assim no tempo de Paulo, embora essa mentalidade ficasse esquecida durante vários séculos. Durante toda a idade média a Bíblia ficou esquecida, para se ensinar a tradição da Igreja, produto da mente humana. No entanto, a mentalidade dos bereanos voltou a reviver nos tempos da Reforma Protestante, quando a opinião das “Autoridades Eclesiásticas” foi posta em dúvida pelo povo que depois de tantos séculos, voltara a ter acesso às Santas Escrituras. Parece-me que nos nossos dias, temos de reaprender que a Bíblia, e em particular os ensinos do nosso Mestre, são a nossa única e insubstituível fonte de conhecimento de Deus e o nosso padrão de comportamento, ou como dizia Lutero “Somente a Escritura”.

 

Por vezes, quando se levantam questões um tanto incómodas para os nossos “entendidos”, quando há falta de argumentos, é vulgar a afirmação: “A Bíblia em português diz isto... (como se não conhecêssemos a nossa língua!!!). Mas nos textos originais aparece outra coisa. O irmão sabe hebraico? Conhece o grego?.....” E assim acaba a conversa.

 

Penso que nós, os que não sabemos grego nem hebraico, não temos necessidade de nos reduzirmos ao silêncio perante tais argumentos. O estudo das Escrituras é demasiado importante para que possamos confiar em quem quer que seja, muito menos nos teólogos, embora com todo o respeito que nos merecem, pois a história da Igreja, tanto no passado como no presente, está cheia de exemplos de como a Bíblia tem sido deturpada, por vezes até com boas intenções, por pessoas que pensaram estar prestando um bom serviço à Igreja do Senhor. A melhor maneira de salvaguardar esses desvios doutrinários, é a Bíblia ser interpretada por aqueles a quem o Senhor a dirigiu, pelo próprio povo evangélico.

 

Qualquer um de nós, poderá comprar um Antigo Testamento em hebraico, ou um Novo Testamento em grego, mesmo sem conhecer estas línguas, e com o dicionário e uma pequena ajuda de quem conheça estas línguas, confirmar quais as palavras que estão nos textos originais.

 

Assim, mais importante do que a minha opinião ou a minha explicação para a tua pergunta, é examinares pessoalmente os textos em grego dessas passagens, que vou juntar a seguir. Se a palavra que encontrares for “gleukos”, como está em Actos 2:13, então é mosto, ou suco de uva, mas se encontrares “oinos”, escrito com letras gregas, então é vinho, o tal vinho de uva já fermentado.

                               

1ª Timóteo 3:8

 

 

Descrição: vinho_g11

 

Efésios 5:18

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Meu querido e jovem irmão. Fico feliz por me dirigires esta pergunta, um tanto polémica, mas o apelo que te faço é que não acredites em mim, nem em ninguém, mas apega-te às Escrituras, em especial aos textos originais, que afinal concordam com a nossa Bíblia em português.

 

Vinho na Ceia do Senhor

 

Há pastores evangélicos no Brasil que, desconhecendo o contexto cultural em que Jesus viveu, dizem que Cristo não utilizou vinho “oinos” ao instituir a Santa Ceia, por aparecer a expressão “fruto da vide”, que segundo eles, Jesus utilizou para mostrar que não se tratava de vinho mas somente mosto. No entanto, trata-se dum eufemismo muito vulgar nessa cultura. Esta expressão “fruto de ....” é típica da cultura judaica e encontra-se em muitas outras ocasiões, mesmo sem ser uma referência ao vinho. Podemos encontrar “fruto da árvore” em Génesis 3:3, “fruto da terra” em Génesis 4:3Números 13:20Números 13:26Deuteronómio 1:25Deuteronómio 7:13, “fruto da boca” em Provérbios 13:2 e Provérbios 18:20, “fruto da mentira” em Oséias 10:13 e isto não significa que “fruto da árvore” não fosse uma verdadeira fruta ou que “fruto da mentira” não se referisse a uma verdadeira mentira.

 

Verifica-se uma certa unanimidade em todas as boas traduções que consultei, traduções efectuadas a partir das cópias dos manuscritos originais. Em Mateus 26:26/29Marcos 14:22/25 e Lucas 22:17/20 tanto Ferreira de Almeida, como a Jerusalém, e a TEB traduzem por fruto da vide, ou da videira e em 1ª Coríntios 11:23/26 referem-se a cálice. A TOB refere-se a “fruit de la vigne” e “cette coupe” respectivamente, Reina Valera menciona “fruto de la vid” e “copa” e a Vulgata Latina menciona “genimine vitis” e “calix”.

 

Essa passagem em Actos, é muito significativa, pois culturalmente está bem próxima da nossa cultura. Em Portugal, quando se convida alguém a “tomar um copo”, subentende-se que será um copo de vinho, pois se não for de vinho, será necessário mencionar que é um copo de cerveja ou um copo de água... mas se nada se disser sobre o conteúdo do copo, certamente que será de vinho. Parece ter sido esse o critério seguido por Lucas, quando escreveu o livro de Actos mencionando o cálice sem referir o seu conteúdo.

 

Outro argumento utilizado para “provar” que na Ceia do Senhor não foi utilizado vinho, mas somente o mosto, que teria de ser conservado desde a vindima do ano anterior, pois esta se fazia em Agosto e Setembro e eles estavam na época da Páscoa (14 de Abib) que corresponde aos meses de Abril ou Maio, é o facto do Êxodo 12:14/30 proibir que, nesses sete dias da festa pascal, houvesse fermento nas casas dos judeus. Este argumento, não toma em consideração a época e a cultura, pois fermentação do vinho, nunca na Bíblia foi considerada como fermento e o contexto desses versículos mostram claramente que toda a ênfase é colocada nos pães asmos. Quem comesse pão levedado na época da Páscoa, de acordo com o versículo 15, seria “cortado” ou “eliminado” de Israel, uma forma de se referir à pena de morte. Mas ao aceitar este argumento como válido, então teríamos principalmente de rejeitar a utilização do vulgar pão, nos nossos cultos de Ceia do Senhor, para passar a utilizar a hóstia, como fazem os católicos. É verdade que o Antigo Testamento por vezes fala no fermento associando-o à impureza e ao pecado, mas Jesus não deu apoio a esta velha ideia sobre o fermento, quando em Mateus 13:33 compara o próprio Reino de Deus com um pouco de fermento. Penso que isso é um bom passatempo para os “fariseus” dos nossos dias que ainda não compreenderam que a mensagem de Jesus não está subordinada à mentalidade veterotestamentária, pois muitos critérios foram anulados ou profundamente alterados, e a Ceia Senhor não é uma comemoração da Páscoa judaica: Não se fala do cordeiro pascal e os elementos centrais são o pão e o vinho. Mas há outra profunda diferença. É que a morte, o cadáver, que era o máximo de impureza, em especial em Levítico, que tornava impuro quem nele tocasse, passa a ser fonte de bênção e de vida, passa a ser o único caminho para Deus.

 

Bodas de Caná

 

Um dos primeiros milagres de Jesus, pelo menos é o primeiro que ficou registado, encontra-se em João 2:1/12.

 

Segundo os textos bíblicos, Jesus transformou a água em vinho. A palavra que aparece nos versículos 3, 9 e 10, nas cópias dos manuscritos em grego, não é “gleukos” nem “tirosh” que possam ser traduzidas por mosto, mas é a palavra “oinos” que significa vinho, o verdadeiro vinho de uva, já fermentado.

 

Mesmo quem não souber grego, como é o meu caso, pode procurar as palavras no texto em grego que junto a seguir, onde está assinalada a palavra “oinos”, para que todos possam conferir esta informação.

 

João 2:1-12

Descrição: vinho_g13

 

O texto é bem claro. Neste milagre, Jesus transformou a água em vinho. A palavra “oinos” não deixa margem para dúvidas. Devemos aceitar o verdadeiro Cristo dos evangelhos, que se alegra com o seu povo, que compreende os seus que reconhecem a sua voz, como as ovelhas ouvem a voz do seu pastor, embora haja quem siga um outro “Jesus” da sua tradição. Para esses, que já decidiram não crer na evidência das Escrituras, que colocam a sua tradição em primeiro lugar, não há nada a fazer. Nem o próprio Cristo os poderá mudar. Mas vejamos alguns argumentos que apresentam, para “provar” que não era verdadeiro vinho.

 

1) Dizem alguns, que após esgotado o vinho, foi servida água, em tom de piada que foi bem aceite por todos.

 

2) Se o objectivo do milagre era manifestar a glória de Deus, não poderia ter sido verdadeiro vinho, depois dos convidados já terem bebido muito.

 

Prefiro não comentar estes argumentos, mas não posso deixar de lamentar a forma como torcem as Escrituras para as adaptar às suas tradições.

 

 

Podemos imaginar o que seria dum convidado que chegasse atrasado ao casamento em Caná.

 

A primeira preocupação seria procurar uma talha com água para as purificações rituais. Mas chega à primeira talha que encontra cheia de vinho e pensa... Não é aqui. Deve ser aquela outra talha, mas na outra também só há vinho e é assim em todas as seis talhas. Então, como cumprir a Lei de Moisés? Não ficou água para as lavagens rituais, nem há água para se misturar no vinho. Então, a grande preocupação; agora o que fazer? Abandonar a festa entristecendo os noivos ou aproximar-se dos outros convidados sem as lavagens rituais?...

 

Estes problemas sem solução, podem acontecer nos nossos dias, se não aceitarmos que o Mestre chegou, e está entre nós!!.... Tudo o mais está ultrapassado. Ou nos juntamos e nos alegramos com os pecadores salvos por Jesus, ou então, temos de nos juntar aos “fariseus do nosso tempo”, que colocam as suas tradições acima da Boa Nova que Cristo nos anunciou.

 

 

Vinho – 2

Ângela Faria – Engenheira da Alimentação

 

O vinho nos nossos dias

 

Em Portugal, desde o início da Nacionalidade até aos nossos dias, o vinho ocupou sempre um lugar de destaque na economia agrária, nomeadamente a partir do século XIV, nas exportações portuguesas para o estrangeiro (estas eram primeiramente de diversos vinhos com uma qualidade variada, mas desde o século XVII salientou-se o comércio do vinho do Porto). Sendo um produto com uma longa tradição que se estende até á mesa no momento da confraternização, ao saborear do vinho, é uma herança que passa de geração em geração, feita de amor à terra e ao clima ameno com que fomos abençoados.

 

Constituição da uva:

O cacho é constituído pelo engaço e os bagos (normalmente designados por bagas ou uvas) que por sua vez são constituídos pela película (a pele da uva), pela polpa (interior da uva) e a grainha (semente).

 

O engaço é:

.pobre em açucares,

 

.médio em ácidos salificados,

 

.rico em polifenóis (taninos) responsáveis por grande parte da adstringência (sensação de “boca grossa”, acontece quando mastigamos algum fruto que não esteja maduro ou ingerimos um vinho) dos vinhos e baixa acidez (pH >4).

 

A película contém:

.água (78 – 80%),

 

.matéria corante,

 

.substâncias do aroma,

 

.tanino (1 – 2%),

 

.matérias ácidas (1 – 1.5%),

 

.matérias minerais (1.5 –2%)

 

.matérias azotadas (1.5 – 2%).

 

É na pruína (camada cerosa aderente exteriormente à película) onde se “agarram” as leveduras e bactérias disseminadas pelos ventos, chuvas e ainda por insectos.

 

A polpa é constituída por:

.água (70 – 78%),

 

.açúcares (10 – 25%),

 

.ácidos orgânicos livres (0.2 – 0.5%) e combinados (0.5%),

 

.matérias minerais (0.2 –0.3%),

 

.matérias azotadas e pécticas (0.05 – 0.1%)

 

. vitaminas (vestígios).

 

A grainha contém:

.água (36 – 40%),

 

.óleos (10 – 12%),

 

.taninos (5 – 8%),

 

.matérias ácidas voláteis (1%),

 

.matérias azotadas (1 – 2%)

 

.matérias hidrocarbonadas (34 – 36%).

 

Da vinha à garrafa:

 

1) Escolha de castas

 

2) Tratamentos fitossanitários

 

3) Controlo de maturação

 

4) Sumo de uva

 

5) Esmagamento

 

6) Esgotamento - Prensagem

 

7) Maceração - Defecação

 

8) Fermentação

 

9) Vinho - Armazenagem

 

10) Colagem - Filtração

 

11) Tratamento pelo frio - Filtração

 

12) Engarrafamento

 

Viticultura - Ponto 1) a 4)

 

Vinificação - Ponto 2) a 9)

 

Enologia - Ponto 9) a 12)

 

Nota: Estas operações são algumas das necessárias para a transformação do sumo de uva (suco de uva) em vinho. As técnicas variam quando se quer produzir um vinho tinto ou um vinho branco, e ainda, por exemplo um vinho VQPRD (vinho de qualidade produzido em região demarcada) ou um vinho corrente.

 

Comparação entre vinho (produto obtido através de uma fermentação) e outro género de bebidas (produtos obtidos principalmente através de destilação)

Vinho: bebida alcoólica obtida por fermentação do mosto de uva, sendo composto por água (componente maioritário), álcool etílico (7% a 17% de volume) e por cerca de duzentos componentes diferentes dentro dos quais destaco os ácidos orgânicos (málico, tartárico, cítrico, acético e carbónico), polifenóis (tanino e corantes autociânicos), glicerina, glúcidos (glucose, frutose, pentose), substâncias nitrogenadas (aminoácidos, proteínas, aminas), sais minerais (fosfatos, sulfatos, cloretos, potássio, cálcio) e substâncias voláteis (aldeídos, acetonas, ésteres).

 

Aguardente: bebida resultante da destilação alcoólica do açúcar contido em diversos cereais ou frutos. As aguardentes (bebidas espirituosas) têm um teor alcoólico nunca inferior a 32%. Como exemplos de aguardentes, cujo sabor é caracterizado de acordo com o produto fermentado, podem definir-se: vínica, bagaceira, brandy, conhaque, de frutas, genebra, gin, vodka, whisky, tequilla e outros.

 

Whisky (uísque) : aguardente destilada na Escócia a partir de cevada (“scoth whisky”) e na América a partir de milho (“bourbon whiskey”),com um teor alcoólico entre os 43º e os 44º. A sua típica cor dourada e o ligeiro sabor a fumo devem-se ao armazenamento, durante vários anos (nunca menos de cinco) em pipas de carvalho previamente fumadas.

 

Cachaça: é a aguardente obtida da borra do melaço ou do próprio melaço da cana-de-açúcar. A sua produção no Brasil teve início na segunda metade do século XVI e destinava-se inicialmente aos animais domésticos e aos escravos. Em breve se tornou a mais popular bebida brasileira. O seu teor alcoólico é de 40 a 50º.

 

Cerveja: bebida fermentada cuja preparação se efectua a partir de cereais germinados (malte), sendo aromatizada com lúpulo. Contém 3-7% de álcool, glicerina, anidrido carbónico, maltose, dextrina, compostos azotados, minerais, pequenas quantidades de tanino, substâncias amargas, corantes e ácidos orgânicos.

 

Controlo de qualidade efectuado ao vinho

Seguidamente apresento algumas análises básicas e a legislação em que se baseiam, para o controlo de qualidade do vinho e algumas bebidas destiladas:

 

. Massa volúmica e densidade: método oficial português (portaria 985/82 e NP 2142) – aerometria.

 

. Extracto seco: é calculada através do método indirecto utilizando a fórmula de Tabarié-Girard:

 

d = 1 + D + D’ , e para conversão em gramas E = e * 10

 

. Dióxido de enxofre: é utilizado o método oficial português e que a CEE descreveu como método usual no Reg. 1108/82, método iodométrico baseado no método de Ripper,

 

- sulfuroso livre: baseia-se na titulação iodométrica directa em meio ácido, com titulação correctiva sobre a mesma amostra mas em que a fracção livre de SO2 se combinou com o excesso de etanal e propanal,

 

- sulfuroso combinado: titulação iodométrica em meio ácido após dupla hidrólise alcalina na amostra cujo SO2 livre foi oxidado.

 

. Acidez:

 

- acidez total: é através de titulação com soda que chegamos a este resultado usando o azul de bromatimol como indicador, o resultado vem expresso em gramas de ácido tartárico por litro,

 

- acidez volátil: método de Mathieu, é efectuada primeiramente uma destilação, seguida de uma titulação,

 

- acidez fixa: calculada através das seguintes fórmulas:

 

acidez volátil (g ácido acético/l) * 1,25 = acidez volátil (g ácido tartárico/l)

 

acidez total – acidez (g ácido tartárico/l) = acidez fixa (g ácido tartárico/l)

 

. Potencial de oxidação-redução: método electrométrico utilizando um eléctrodo de membrana.

 

. Composição mineral: só é analisado a quantidade de ferro através do método colorimétrico, baseado na reacção com sulfocianeto de potássio.

 

. Teor alcoólico: esta quantificação é feita através de ebulimetria.

 

. Cor: medição da absorção em U.V..

 

. Coloração artificial: método do O.I.V. e o oficial português (portaria 985 e pr NP 2275) baseado nas pesquisas de Arata e Saenz Ruiz (1967) e Tercero (1970).

 

. Estabilidade: são feitos testes de quente e testes de frio.

 

Nota: Estas são apenas algumas das análises que podem ser efectuadas ao vinho. Existe também muito mais legislação que está sempre a ser actualizada, embora a maioria dos laboratórios utilize nas análises de rotina as por mim referidas.

 

 

 

Vinho – 3

Isaque dos Santos Pereira – Assistente de Clínica Geral (Médico)

 

ÁLCOOL E BEBIDAS ALCOÓLICAS

Bebidas alcoólicas são bebidas que, como o seu nome indica, contêm álcool. O álcool etílico ou etanol, molécula de fórmula química CH3 CH2OH é o principal álcool destas bebidas que o contém em diferentes concentrações.

 

O etanol é um líquido incolor, volátil, de cheiro agradável e característico, de sabor queimoso e densidade 0,8. É miscível com a água, ferve a 78,5ºC e pode separar-se da água por destilação.

 

A graduação alcoólica de uma bebida é definida pela percentagem volumétrica de álcool puro nela contido. Assim, por exemplo, um vinho de 10º significa que contém 10% de álcool, isto é, 100c.c. ou 80 gramas de álcool (100c.c. x 0,8 densidade = 80 gramas de álcool).

 

O álcool é um produto da fermentação de açúcares de numerosos produtos de origem vegetal (frutos, mel, tubérculos, cereais) sob a influência de microrganismos ou leveduras.

 

Quanto à sua origem, as bebidas alcoólicas podem ser:

 

- Bebidas fermentadas, tais como o vinho (de 8º a 13º), a cerveja (de 4º a 8º), a água-pé e a cidra (da fermentação do sumo de maçã, raramente ultrapassa os 4 a 5º).

 

- Bebidas destiladas, tais como aguardentes (com graduação à volta de 45º) e os “aperitivos”/licores (com graduações entre 15º a 20º).

 

Dado que as várias bebidas alcoólicas vulgarmente usadas, têm diferentes graduações, obviamente que elas podem fornecer ao organismo idênticas quantidades de álcool se ingeridas em volumes diferentes. Os copos habitualmente usados para as diferentes bebidas, têm idêntica quantidade de álcool, isto é, 8 a 12 gramas de álcool puro, aproximadamente (porque as bebidas mais graduadas se servem nos copos mais pequenos, e as menos graduadas, nos maiores).

 

TIPOS DE PROBLEMAS LIGADOS AO ÁLCOOL

Refere a Organização Mundial de Saúde: “Há incapacidade ligada ao consumo de álcool quando existem perturbações das actividades física, mental e social do indivíduo e/ou da comunidade de tal modo que se possa logicamente deduzir que o álcool faz parte das causas determinantes dessa incapacidade”.

 

Problemas ligados ao álcool, no indivíduo.

 

Efeitos episódicos agudos de um forte consumo de álcool (a vulgar "bebedeira" ou embriaguez) com tudo o que de desagradável representa; consequências de um consumo excessivo e prolongado de álcool com as conhecidas cirrose hepática, polinevrites, encefalopatia, etc.; efeitos de um consumo de álcool em determinadas circunstâncias, como por exemplo na gravidez e durante o aleitamento, com consequências nefastas e por vezes irreparáveis para as crianças.

 

Problemas ligados ao álcool, na família do bebedor.

 

Perturbações do funcionamento normal da família, traduzidas por carências de tipo afectivo, financeiro, maus tratos. Graves perturbações nos filhos dos alcoólicos.

 

Problemas ligados ao álcool, no trabalho.

 

Diminuição do rendimento laboral; elevado absentismo e acidentabilidade; reformas prematuras.

 

Problemas ligados ao álcool, na comunidade.

 

Perturbações nas relações sociais e de ordem pública; delitos, actos violentos, criminalidade, acidentes de viação; desemprego, vagabundagem.

 

FALSOS CONCEITOS LIGADOS AO ÁLCOOL

Em Portugal, as tradições, usos, costumes e "falsos conceitos" são exemplos de factores socioculturais que facilitam, determinam e intensificam o uso de bebidas alcoólicas nos mais variados momentos e circunstâncias da vida do indivíduo: “bebe-se para aquecer” (ignorando-se que a sensação de calor sentida provém de uma vasodilatação dos pequenos vasos da circulação superficial da face e membros, que, por sua vez é causa de um arrefecimento geral do organismo); “bebe-se para ter mais força” com base no efeito excitante e euforizante do álcool; “bebe-se para abrir o apetite”; para “matar a sede”; etc. etc.

 

CONSUMO MODERADO DE ÁLCOOL

Não são as bebidas alcoólicas que fazem bêbados e bebedores excessivos. Pessoas dependentes dos efeitos psico-comportamentais do álcool e pessoas solicitadas pelo meio e desconhecedoras de quando, quanto e o que beber é que se tornam bebedores regulares abusivos.

 

Se é adulto e saudável e aprecia “uma boa pinga”, beba com gozo e moderação enquanto come, ou logo depois. Prefira vinhos tintos ou brancos, garantidamente “honestos” e naturais. Guarde as outras bebidas alcoólicas para saborear parcimoniosamente só em momentos especiais. Recorde-se que para “matar a sede”, nada melhor do que água simples. Quanto mais forte a bebida e mais vazio o estômago, maior e mais rápida é a absorção e a elevação do teor alcoólico no sangue e mais provável é que esses teores ultrapassem a capacidade fisiológica de desintoxicação.

 

Em média, um adulto saudável de 65 kg pode beber cerca de 2,5 dl de vinho maduro a acompanhar um almoço ou um jantar bem estruturados. Essa porção equivale aproximadamente a 3 dl de vinho verde, 6 dl de cerveja, 0,5 dl de aguardente, uísque ou outra bebida destilada.

 

Com almoços e jantares ligeiros é aconselhável ficar por metade dessas quantidades. E fora das refeições, nada!

 

As mulheres devem quedar-se por 70% das quantidades referidas, já que têm uma capacidade de metabolizar o álcool, inferior à dos homens.

 

Defende-se que antes dos 17 - 18 anos não se devem consumir bebidas alcoólicas, porque os sistemas desintoxicantes do organismo não são ainda suficientemente eficazes. O contacto com o álcool antes de completada a maturação causa subdesenvolvimento do organismo, prejudica a imunocompetência, afecta as capacidades intelectivas, contribui para o insucesso escolar e dificulta a aprendizagem profissional.

 

Os vinhos em geral, mas sobretudo os tintos, fornecem prociamidinas, histidina e variadas substancias antioxidantes que actuam como protectoras contra a aterosclerose, cancro e envelhecimento patológico. Tais substâncias protectoras provêm de cascas, grainhas e engaço das uvas e são uma das explicações possíveis para a longevidade de povos grandes comedores de uvas tintas, como os búlgaros. Têm também sido relacionadas com a fraca incidência de aterosclerose em França, apesar de os consumos de gordura nesses país semelharem os do Norte e Centro da Europa e os dos Estados Unidos, onde se bebe muito pouco vinho e, pelo contrário, se abusa de cerveja, bebidas destiladas e refrigerantes agressivos.

 

CONCLUSÃO

Coisa má é consumir bebidas alcoólicas sem critério e em abundância.

 

Outra coisa é beber com moderação e oportunidade. Mas coisa boa, talvez seja beber com moderação e oportunidade vinho tinto de qualidade.

 

BIBLIOGRAFIA

MANUAL DE ALCOOLOGIA - Maria Lucília Mercês de Melo, Augusto Pinheiro Pinto, Maria Henriqueta Frazão, José Pereira da Rocha - Coimbra 1988

 

BEM COMIDOS E BEM BEBIDOS - Emílio Peres - Coimbra 1997

 

Isaque dos Santos Pereira, Assistente Graduado de Clínica Geral, Leiria – Portugal

 

 

Vinho – 4 (Camilo Coelho)

 

 

Conclusão

 

Ao chegar ao fim deste estudo, é natural que alguns dos leitores da “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” me perguntem: “Mas então, se esta é uma página evangélica na internet, não deveria ter mais consideração pelas nossas tradições evangélicas?”

 

Confirmo que a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” é uma página evangélica, mas empregamos o termo evangélica, querendo afirmar que está ao serviço do Evangelho, o que não implica necessariamente, estar ao serviço das tradições das igrejas evangélicas.

 

Claro que não podemos ignorar que esta página será visitada por muitos evangélicos, católicos, ateus ou agnósticos, mas ao apresentar estes estudos sobre o Evangelho, não tencionamos ser influenciados pelas tradições de evangélicos ou católicos, pois como diz Paolo Ricca, Professor da Faculdade Valdense de Teologia, “O pregador não deve ser cúmplice das ideias da comunidade ou de uma pessoa individualmente.” Não é o facto de determinada ideia ser aceite pelas nossas igrejas que nos deve pressionar a aceitá-la, pois os evangelhos e a palavra de Jesus, são o nosso único e insubstituível ponto de referência.

 

Penso que este estudo sobre o vinho nas Escrituras, tem mais interesse para os brasileiros e outros leitores de língua portuguesa do que para os portugueses, pois estes últimos, têm uma antiga tradição vinícola e geralmente sabem o que podem e quanto podem beber, mas penso que mesmo estes terão interesse nos esclarecimentos do Dr. Isaque Pereira como médico e da Engenheira de alimentação Ângela Faria.

 

Dois mil anos nos separam do nosso Mestre, que todos ansiamos por conhecer melhor. Temos algumas informações e damos graças a Deus, em primeiro lugar, pela preservação dos textos bíblicos, em especial dos evangelhos, mas temos também a tradição que nos apresentam as igrejas do nosso tempo e dou graças a Deus pela acção de católicos, protestantes ou ortodoxos, pois nos dão alguma informação sobre o nosso Mestre, mas por vezes temos a sensação de estar perante uma velha estátua, que foi construída há dois mil anos, mas que presentemente já está suja pelo tempo e pelos excrementos dos pássaros. Há muita tradição, produto da mente humana, que foi acrescentada à mensagem das Escrituras, por vezes por motivos económicos, como no caso das indulgências ou da obrigatoriedade do dízimo, mas geralmente com boas intenções, por teólogos que pensaram “ajudar” o Senhor, acrescentando suas convicções pessoais ao Evangelho, pensando ingenuamente que Deus necessitava da sua ajuda para rectificar ou completar a sua revelação ao homem.

 

O desafio que o Senhor coloca perante todos nós, é de limpar a velha estátua, para tentar chegar às origens, ao tempo em que Jesus apresentou o seu Evangelho. Claro que haverá reacção dos que se habituaram a ver a velha estátua enegrecida pelo tempo e pela sujidade e preferem que assim continue.

 

Que o Espírito do Senhor nos encaminhe para separar do verdadeiro Evangelho, tudo que é tradição católica, por vezes medieval, ou tradição e erros do protestantismo, com origem em contextos culturais que nada têm a ver com os nossos e muito menos com esse Jesus, que não era português nem brasileiro, não era europeu nem africano, não era católico, nem evangélico, nem ortodoxo, mas que é a PALAVRA DE DEUS, que se manifestou há 2000 anos, num país pobre da Ásia menor, chamado Israel.

 

Parece-me, pelo que já foi dito, que podemos tirar as seguintes conclusões:

 

1) O vinho era bebida que geralmente fazia parte das refeições, no contexto cultural em que Jesus viveu, e o nosso Mestre, integrado na sua cultura, tomava vinho assim como todo o homem do seu tempo.

 

2) Vinho ou “oinos” como aparece em grego, é produto da fermentação do mosto da uva. Ninguém nessa cultura confundia vinho com aguardente portuguesa ou cachaça brasileira, que era designada por bebida forte “síqueroh”. Esta diferença entre vinho e bebida forte (produto de destilação), está bem nítida em Lucas 1:15, onde as duas palavras aparecem no mesmo versículo. Afinal, quer a engenharia de alimentação quer a medicina, como vimos, confirmam esta diferença.

 

Lucas 1:15

Descrição: vinho_g14

 

Mas há outro aspecto que não podemos ignorar. Embora para todos nós, que nos entendemos em português, quer brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos etc a palavra vinho tenha o mesmo significado, a semântica desta palavra nem sempre é a mesma, pois em Portugal, vinho é a bebida do pobre, assim como acontecia no contexto cultural em que Jesus viveu, mas a realidade quer no Brasil, quer noutros países lusófonos, é bem diferente.

 

Vejamos o que representa para o brasileiro da classe mais humilde, que receba o seu vencimento mínimo, o custo duma garrafa de vinho brasileiro e fazer as mesmas contas em relação ao vencimento mínimo em Portugal, no corrente ano de 2001. Vou fazer as contas em reais, pois esta parte tem mais interesse para os leitores do Brasil, já que em Portugal ninguém tem dúvidas de que vinho não é aguardente.

 

No Brasil, uma garrafa de 0.7 litros custa 4 reais, o que dá 4/0.7= 5.7 reais/litro. Para o brasileiro mais humilde, que receba o vencimento mínimo de 180 reais, um litro de vinho corresponde a 5.7/180=0.0317 ou seja 3% do seu vencimento.

 

Em Portugal, o pobre geralmente não compra vinho à garrafa, mas ao garrafão que sai mais barato. Um garrafão de 5 litros custa entre 6 a 12 reais em moeda brasileira. Considerando um valor médio de 10 reais, o que daria 2 reais/litro, para o português mais humilde, que receba o vencimento mínimo de 670 reais, teremos de concluir que um litro de vinho representa 2/670=0.003 ou seja 0.3% do seu vencimento.

 

Julgo que ao falar em vinho, no Brasil e em Portugal, não podemos esquecer de que embora em teoria seja a mesma coisa, estamos a utilizar a mesma palavra com uma semântica bem diferente dos dois lados do Atlântico. Em Portugal, assim como em Israel no tempo de Jesus, vinho é a bebida do pobre, mas no Brasil isso já não funciona, pois o pobre no Brasil geralmente não tem acesso ao vinho e por vezes acaba apor confundir vinho com cachaça, que pode comprar a 1,5 a 2 reais/litro.

 

Gostaria ainda de meditar no uso do vinho na Ceia do Senhor, mas devido ao tamanho um tanto exagerado deste estudo, vou abrir outra página dedicada ao assunto, pelo que convido o leitor a ler o artigo “Ceia do Senhor”.

 

Espero que quem tenha entrado neste artigo, o tenha lido até ao fim, ou que pelo menos tenha lido esta conclusão, pois gostaria que ficasse bem claro que o vinho que Jesus bebia, era o genuíno vinho de uva, não era cachaça nem whisky, cujo teor alcoólico é muito mais elevado do que o do vinho natural, o suco de uva fermentado.

 

Não posso dizer que a Bíblia proíbe a cachaça ou o whisky, pois em Números 28:7 a “bebida forte” faz parte das ofertas no Templo, e em Deuteronómio 14:26, o judeu que oferecesse o holocausto, era convidado a comer da sua própria oferta, incluindo “bebida forte”, no próprio Templo. Mas como já vimos, não é recomendável o uso de “bebidas fortes” (aguardente, cachaça. whisky etc.), a não ser com muita moderação, pelos motivos que a medicina nos apresenta. E no caso do genuíno vinho de uva, há que ter em atenção os pormenores para que nos alertam os dois especialistas no assunto, pois os efeitos benéficos para o nosso organismo, só são válidos se soubermos beber tendo em atenção todos os pormenores já apresentados.

 

Colaboradores deste artigo

Termino com os meus agradecimentos à jovem Engenheira da Alimentação Ângela Faria, membro da Igreja Batista da Maceira, pela sua colaboração neste estudo. É a primeira vez que temos a sua colaboração na “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” e desejamos que seja a primeira de muitas outras vezes.

 

Tivemos também a valiosa colaboração do médico Dr. Isaque Pereira, também membro da Igreja Batista da Maceira, a quem apresentamos os nossos agradecimentos.

 

Quero ainda mencionar o Pastor e Professor de Psicologia Dr. Orlando Caetano pela sua preciosa ajuda no Hebraico e no Grego. Este autor é já bem conhecido dos leitores desta página da internet através dos seus artigos.

 

Que o Senhor nos conceda o bom senso, para tomarmos a opção correcta quanto às nossas bebidas.

 

 

Camilo - Marinha Grande, Portugal

Dezembro de 2005

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

 

 

 

 

 

 

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